quarta-feira, 31 de março de 2010

Legal! Sou foda, e agora?

Fudeu!
Achava que era só na faculdade. Não, não.
Essa raça medíocre está em todo lugar, essas tentativas de protótipo de criatura qualquer.
Quem dera fosse alguma criatura qualquer, mas não.
Um esboço de brumas dum certo pântano, um pegajoso que cola e gora.
Hoje em dia se fala que nós, elite intelectual estamos trabalhando para a "transformação social", e assim utilizam estas palavras ocras, vazias de si e de qualquer coisa que haja apenas para justificar uma escola aqui e outra universidade ali.
A única coisa de social que a universidade tem é o sistema de cotas, onde brincamos de "formação do cidadão" e "seleção mais justa", coloca três negros gato pingados, alguns que pela sua condição não são capazes de se manter na universidade. Ou seja, que merda de social. Detalhe, a maioria se não ouso dizer que são brancos, ouso dizer que são nipônicos, e a despeito dos que tem aqueles caridosos corações que intoxicam de tanta bondade, a única transformação que ocorre e ocorrerá é a adição de uma grife em seu cúrriculo.
Brincamos de ser profundos numa realidade que ninguém leva a sério: alguns brincam de dialética, acreditam no futuro da revolução, e outros dizem simplesmente: pau no seu cu!
De fato, sou mais fã do pau no seu cu do que ficar brincando de revolução, onde de um facismo passaremos a outro, senão é o capital, pode ter certeza o totalitarismo está a espera em qualquer canto, em qualquer ação unificadora, bondosa, que nos livre da angústia de bem existir.
É tão difícil ser ético sem ser moral? Para conviver têm-se que ter e obedecer os mesmo princípios que todos?
O palavreado pode estar grotesco, mas para um mundo - que não vamos ser ingênuos de cair no interpretacionismo, onde cada um acha que seu mundo pode ser uma maravilha pois acredita na falácia do pensamento positivo - que a toda hora faz o prazer de viver sumir do mapa, eu me pergunto, pra quê esse mundo?
Um enorme Midas meio Lich, meio zumbi, em que sua mão literalmente faz tudo virar ouro, opaco, sem viço - é ouro latão, não brilha. Seu manto é a morte e destruição, e sim, ele é Golias que de sua alta torre vê tudo.
Se tenho falado mais da faculdade, é porque o desencanto com o resto é inclusive pior. Porém, mesmo que o mundo seja composto de enguias e seu charco, não é por isso que me submeterei a esse pantâno de "humanidade". E não serei eu a ser a luz redentora que fará as enguias se tornarem, ao menos, criaturas. Essa pica não é minha. Não vou brincar de mudar o mundo. É tosco demais. Quem muda o mundo não sabe o que está fazendo! Falam em abstrato de paz, amor e toda essa parafernália. Não sei se rio ou cuspo na cara destas enguias, endeusam esta abstração cadavérica que é o Homem, e este mata a si mesmo - se é que teve vida para ser tirada.
Enquanto isto, na nossa iluminada Igreja da Razão Universal, uma aula de como brincar de Deus e ser escroto como pesquisador, tentando provar aquilo que deseja ser verdade. Não sabe afirmar sua invenção, espera que alguém reconheça, e por que não esse mercado diplomático?
Eu sei que sou foda, e podem falar que eu sou narcisista, egocêntrico e sou o pecado capital do orgulho. Mas não sou o único - excelentes pessoas estão ao meu redor, e sei que se quisessemos poderíamos fazer diferente, mas a questão é: vale a pena universalizar?

domingo, 21 de março de 2010

finding buddies

The question is not how we search for friends, the quest is to find them.


Encontrar. Digerir. Outrar. Não à irmandade, a amizade, o companheirismo não devém duma gregária filiação de sangue, de pátria, de idéias. Aquele que devém irmão toma o mundo como um emaranhado de iguais, mas que se enroscam com os não-iguais, logo unem-se para lavar o mundo da "sujidade" do diferente.

O irmão se identifica no outro, tomado como espelho seu umbiguismo, de seu narcisismo. O irmão não é uma aliança, mas uma submissão. É a vida que se expande circunscrita na prisão do identifismo, e que logo degenera nas paredes do rígido sufrágio universal - onde todos nos filiamos à uma raça humana, "não-animal", a uma instância neutra capaz de julgar a todos sob o prisma da navalha racional, essa lâmina branca portada pelo barbeiro. Corta o pêlo que remete à placenta animal, essa via que traz uma vida potente demais para os modelos pós-estabelecidos.

A questão não é o irmão, ou mesmo aquele em que haja uma relação de vizinhança. Amizade de iguais não é amizade, mas necessidade para com sujeitos empobrecidos, não capazes de assegurar a diferença que se desenha em seus corpos. No fracasso da afirmação do corpo, espera-se um reconhecimento exterior - o grande Outro que nos consola com a "verdade", seja o pai, o filho, o Estado ou o irmão.

A questão então não é, definitivamente, procurar semelhanças, mas sim em como encontrar alianças. Aí que se constitui a amizade, no campo de forças de interpretação, e não nos modelos representacionais. Componho uma aliança com o outro não por igualdade, mas porque ambos queremos expandir, ampliar aquilo que nos faz viver, e ampliar é toda hora sair da identidade e da representação - é compor novas interpretações das forças.

Uma nova interpretação só surge de um encontro, e a nova configuração surge da desconfiguração do original. Não é um simulacro que degenera da Idéia pura e abstrata. Mas um campo que continuamente se diferencia em si mesmo, que se desestabiliza de seu hábito para uma nova possibilidade de existir. Encontrar é diferir, mas apenas encontrar não basta.

O encontro pode nos promover a ação, assim como pode padecer nosso corpo. Logo a questão é ter prudência, nem todo encontro é potente, não é encontrar, apenas, que cria a amizade e a aliança. Há de fato encontros que impotencializam os homens e demais seres. O encontro produz. Ponto. O que se faz com a produção? O que se faz com a consequente produção que devém da produção? O que fazer com a produção de registros, de referenciações, de consumos, de distribuições? Temos que digerir o encontro, temos que digerir o processo.

Antropofagia, comer o homem, mas não apenas o homem, deve-se comer o inumano, o orgânico e o inorgânico para compor. Amizade é devorar bem o outro. Compor-se do outro. Compor-se com o outro que te devora. Encontra-se, come-se, digere-se, assimila-se, e por fim (e um novo começo), outra-se.

O irmão é a lei do incesto, uma impossibilidade, pois não há o que comer aqui. Não há encontro possível pois estamos presos sob a mesma redoma, somente diferindo e transgredindo esta redomas é que estabelecemos interfaces, planos de contato, linhas de fuga e de encontro. Aí se tece a amizade, num jogo de encontro e fuga, de desejo pelo que vive, de compor-se com aquilo que do outro é vital a mim, e de escapar do que é venenoso a mim. Digiro isso. Dirijo isso.

Faço aliança contigo que me é estranho. Já não sou mais o mesmo, outrei-me. Novamente busco estabelecer outras regiões de contato, pois já não somos os mesmos. É uma tarefa sem fim a amizade, é encontrar alianças, tecer corpos, compor uma poética de nossa existência. A grande aventura da existência: amizade.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Enguia não é coringa!

Cansado estou dos sistemas de doutrinação que percorrem esta sociedade, principalmente um espaço específico que se pretende ser o lugar de inovação e transformação: a academia científica.
Querem criar pesquisadores autônomos, criativos e sensíveis às tranformações sociais sendo chancelados pelo capital. Chancelados em completa submissão. O que se faz lá não é educação, não é formação de cidadãos ou mesmo qualquer ser pensante. O que se faz lá é tranformar águias, golfinhos e os mais exóticos animais em uma enguia acéfala.
Em sua grade horária engaiola animais maravilhosos, os quais enjaulados atrofiam suas capacidades e qualidades. A academia é anti-criativa! Achata todos a um mesmo nível basal em que as enguias vivem sem necessitar ir além. Seguem suas receitas de bolo para não sair desse charco universitário onde brincam de deuses ausentes de uma sociedade imaginária.
E depois colocam essas enguias para voar, para guiar, para mergulhar. Mas tudo que elas fazem é se debater! Medianas em tudo! E eis nosso futuro: um futuro mediano que busca a eternidade de sua decrepitude. Apenas o vil necessita ser eterno, pois é assim que estende suas redes de poder onde vampiriza ali onde há vitalidade, há potência, aquilo que não é enguia!
E querem comparar a enguia com o coringa das cartas, aquele que vale tudo, mas a enguia é o 8 o 9 e o 10 do jogo de truco: não têm valor no jogo! Enguia não é faz tudo! Enguia é medíocre!
Essa igreja universal da razão não tá com nada. Quando vão perceber que ENGUIA NÃO É CORINGA!?!?

quinta-feira, 4 de março de 2010

UTI...

Hoje, o corpo já não é mais domínio. Já não o controlo mais. Ou apenas perdi a ilusão de meu poder sobre ele. Tornei-me um trepidante, um gago do andar. Passos curtos, pesados, grotescos. Uma engraçada cena ao espectador.

Pelas ruas da cidade fui a passos cambaleantes, um marginal sem rumo. Eis que surge um pequeno ser acomodado por seu mãe-móvel. Era uma garotinha de olhos castanhos, morena e tuas mãos eram uma arma. Mirou-me e num certeiro tiro, silencioso ao mundo adulto, desestabilizou meu corpo. Quase cai, organicamente falando. Uma surpresa, estranha e cruel. Por pouco o corpo não fica estatelado na faixa de pedestres, mas o corpo seguiu em frente.

Aquele invisível tiro acertou uma invisível camada que estava carregando. O corpo seguia, mas eu estava lá, com as mãos de sangue da cor do céu, fui ferido, abatido. Seres perigosos esses pequenos humanos. Meu corpo já estava longe, rumo a um destino que não conhecia muito bem, e eu vendo o céu, os carros passarem por mim. Eu estou morrendo, estou numa sala de hospital qualquer loteada de máquinas e soro. Um branco total. Minha companhia é um aparelho que faz bip, bip, bip.

Enquanto isso meu corpo está lá, entrando em um estranho edifício. Ele está conversando, conversa com outros corpos, mas será que esses corpos passaram pelo mesmo que eu? Acho que a pergunta foi meio incompreensível. Eu quero dizer, essa experiência que fui esses corpos também a tem? Bem, ao menos ele não parece fazer muita questão, está seguindo adiante a uma sala com uma cadeira.

Hoje perdi a virgindade de meu sangue. Já não é mais meu. Amores perdidos vindo a tona, dessabores mostrados numa tipagem. Sou filho de alguém, lá está dito. Mas o exposto me lança em outro contorno, minha história em um conta-gotas, e a confirmação de minha morte a poucos passos.

Um tubo de sangue por um cartão, minha carta de alforria. Rio agora da cara da morte, como Sifiso o fazia. Quer seja o resultado, já não fugirei de tua raia. Se necessário serei necrófago, te devorarei sem fim, até o último de meus dias. Tu será o alimento que me sustenta, não te temo apesar dos arrepios que me provoca. Tua foice me decepou, tirou o pé que me sustinha, e agora sou bambo, mas tua foice será minha muleta.

Tua máscara já não me engana, e viverei em teus braços, sua ardilosa vida...
biiiiiiiiiiiip...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Secura

Escrevo porque tenho sede. Minha boca está seca, como se tivesse passado dias, senão semanas atravessando as superfícies de um deserto sem retorno. Estou jogado. Lá e cá divergem sem parar, e o para trás nunca converge em meu passado. Terreno inóspito a humanidade. Lugares muito fugazes e traiçoeiros cuja ordam não é dada, nunca o foi. Meu corpo revira de sede, mas gotas de imaginação de mundos causais e suas leis já não me nutrem. O tempo se estende, o tempo se dobra, o tempo é ventado. Lá se vai mais alguns momentos, junto com os grãos de areia. Soçobram e riscam minha pele, sou acometido pelas marcas desses elementos. O tempo não me torna velho, ou mesmo jovem, o tempo apenas marca passos nas areias. E desfaz.

Sinto que está tão perto, quase uma intuição o diz. Mas o panorama de minha visão não me permite escapar das areias do deserto. Sigo a encontrar em meios as dunas. O que quero encontar? Não sei. Pensei em dizer que o que procuro é algo que mate essa secura, essa desidratação existencial que me submeti, mas seria uma mentira. Estou em busca. Em busca de algo que não sei nem o contorno, não faço a mínima noção. O vulto de um sonho que se torna um obsessivo encosto. Um abalo sísmico do deserto, uma reconfiguração do jogo.

Mas eu estou ouvindo o canto das areias, algo que se estivesse saciado, não ouviria. E suas canções me tocam, me nomadizam. Essa secura da boca me sutilizou os sentidos. Um afinamento das cordas que me vibram. Necessidade vital: sede. Estar sedento para criar, o que não é ter sede de criar. O que urge no primeiro estado é superior ao segundo, pois o que o alimenta é a assimetria. O segundo tipo não é vital, é showroom.

Não há motivos para showrooms na imensidão. Apenas o que é vital ao peregrinar.

terça-feira, 2 de março de 2010

açougue literário

Entrei num estranho frigorífico...corpos, corpos mutilados e tatuados
corpos de escritores com suas obras tatuadas
o açougueiro pergunta:
-qual parte você quer? A coxa de Graciliano Ramos ou bife de Alberto Caeiro?
o consumidor responde:
- me vê o peito de Clarice Lispector!

e cada vez mais autores se tornam suas partes...