domingo, 24 de outubro de 2010

Conversa fictícia (!?)

"- Meu velho, não tenho onde cair morto...
- Que bom, então te resta viver"

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Às soberanias, uma vírgula

Juro que tenho meditado não em torno da vida como aconselha um velho amigo,
menti, enganei-o, quando quem eu traí fora eu e não ele
fui abutre em busca de carniça,
já de pronto uma crítica venenosa na língua
e meu de fato inimigo, joguei-me na lama para que dançasse em cima de mim,
ou de meu cadáver
este cão sarnento, o olha sedento,
a carne viçando comida por teus olhos magros
eis o soberano a se debater, não mais um rei
um cão apenas,
mas como fantasma adentra nossas feridas, nossas rachaduras
aí se instala para pela dor contorcermos à tua boca
nossa ira nos torna coesos, falhados, fasados
e à espreita, ele dá os limites da coesão
bater com o cão, chutar o cão não adianta
não há adiante na violência
é preciso deixar as feridas, esgarçá-las ao ponto que o cão já não segura as pontas
despedaçar-se para que os últimos restos sarnentos já não tenham mais corpo para estar
tratá-lo não com um ponto final,
mas uma vírgula,
para descer em teu rabo,
e a história continuar,

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Microcorporativismo - brainstorm I

Foi-se o tempo que mulher paria Deus em carne
A mulher pare informações, bits, agenciamentos genéticos
Na lógica inaudita da neoditadura
quem governa hoje os corpos?
O presídio avançou ao domicílio, qual teu limite?
O quanto de grade tu suporta?
Onde fazer preciso uma golfada de ar?
Combustível, combustão
algo precisa explodir
os regimes precisam explodir
aos regimes nem um centavo
Igreja neoliberal, que para silenciar não dá, mas fazem pedir.
Peça! Mais direitos, mais espaços, mais liberdade!
Contanto que seja em sua microscopia vigiada!
Não se recusam os centralismos, nem os totalitários
democracia? Apenas aquelas que me convém?
Seu duplo? O democracídio? Quem morre, quem mata, quem suicida?
quem te sustenta, ó democracia? Ó supremacia do povo?
Supremo que sempre esmaga quem não nos é povo
Fanáticos da igreja neoliberal, pedimos uma piscina
quem desapropriaremos? Não é cidadão, não é povo
E se são contrários ao nosso avanço, são contra a democracia
são contra a vontade de um coletivo formado por nada além de "eus"
condições a nós, trovadores do conhecimento, serpentes das tripas
pois nós temos a missão "sagrada" de elevar a humanidade
nem que para isso soterremos os profanos...
Um bando de merdas

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Protótipo de elite

Basta entrar seja em twitter, seja em orkut, ou na mais "elitizada" das comunidades virtuais: o facebook.
O padrão não muda, povo que faz UNI-sei-lá-o-quê, mesmo quando é uma UNI-FESP, ou quando muda a sigla: USP, UNICAMP, UFSCAR, mas também MACKENZIE e tantas outras fábricas reprodutivas.
Por um estudo "superior" fico em maior condição de cidadão, me coloco como sábio, este tipo de besta alucinatária que sabe o que me é de direito e de interesse de meus iguais, que por acaso, quem são meus iguais? Todos meus fiéis? De qualquer modo, pensas que um civil, e deveres cívicos portanto, são apêndices da vontade de exceção? Só coloco civilidade naqueles que gozam do mesmo chafúrdio que eu? E coloco-me acima de uma lei, escrevo à vontade um contrato comum a todos que é feito de um "nós" que é a repetição de um "eu" em mim?
Pode-se considerar uma elite que cria esta zona de exceção, mas quem posta nestas redes, certamente não é elite, ainda mais quando só de ler alguns poucos comentários, você encontra não seus paralelo, nem suas ressonâncias, mas seus recortes e cola. Vangloriam-se de não serem vagabundos, mas por que não lê-los como histéricos que fogem ao combate, e que se são contra o vagabundo em seu inverso, uma bunda vaga, copiam e colam discursos num desenraizamento modal em que há todo hora buscam enfiar novos dildos no cu, sejam discursos vermelhor, azuis ou verdes. Alguns insistem em segurar o falo com todas as suas pregas, "elites sem poder"- internautas graduados

sábado, 2 de outubro de 2010

Ecologia de cavernas

Por quê motivo consideramos uma árvore retorcida, que revive após as cinzas das queimadas, mais digna do que um organismo tão pequeno quanto o líquen?
Que hierarquia camuflada é esta que me põe a julgar a vida sob um olhar numa zona de afetos que não me constituiu?
Digo que os seres da caverna são fracos, pois não resistem à luz.
Digo que os seres da caverna são impotentes, pois não são dotados de visão ou termo-regulação.
Que falta é esta que atribuo aos habitantes dessa zona ora calcária, ora arenítica, ora granítica.
Como ao peixe sem olhos pode faltar a visão?
Nos achamos superiores pela visão, e essa frágil vida dilaceramos. Por quê? Por quê podemos?
Mas quando nos adentramos a escuridão primitiva, sem as luzes da ciência ou do saber, sem fósforo ou fogueira, que nos resta? A escuridão, e um corpo que não sabe jogar neste circuito intensivo.
Estabelecemos níveis de vida pelo que podemos em nosso circuito social, mas e outros campos? Em outros campos, o corpo se faz estúpido, pois não se conecta às vertigens conformem aparecem.
E idolatramos raízes profundas, idolatramos caules retorcidos e madeiras que sobrevivem ao fogo. Confundimos gradientes com formas, potência com poder - poder pastoral, poder submissivo, poder do tirano.
Pois cavernas tem uma ecologia frágil, seus habitantes se viram no mínimo que lhes é oferecidos, fazem o possível para que a vida se manifeste. E surge tais homens que julgam, tal vida não é digna, tal vida é fraca, tal vida é impotente.
Mas um homem diante de um vulcão é o quê? Eis que se defronta com sua miséria, a impotência que achava no líquen de raízes rasas lhe é comum, sua vida é rasa diante do magma, mas é vida.
De que corpo, de que potência a vida se utiliza? Não é questão de valorizar formas, mas de fazer a vida penetrar nos mais diversos circuitos. Circuitos cavernosos, circuitos cerrinos, circuitos solares.
A potência comum da vida, e não do homem, é que deveria estar no centro, ou melhor, nos descentramentos sucessivos e contínuos, abrindo às formas conexões, ligações, conjugações, mestiçagens. O Homem não existe. Um homem é mais um elemento da multidão, multidão a-orgânica, multidão-ovo, multidão-gradiente.
Eis que desconfiais os que promulgam a força, pois são arautos da fraqueza...