terça-feira, 20 de outubro de 2009

Um estalo antes de dormir

mão com pé, peito com punho, eis a batida
o corpo é instrumento
o corpo canta
inauditas as palavras
mas profundos os afetos
quem dera olhar o chão vê-lo em blocos
mas o corpo insiste, paralisa tudo para ver a dança
ladrilho que vira retângulo, que vira triângulo, que vira moça
parede suja que vira história encantada e baile de debutante
não é invisível, lá está
mas só canções que invadem os olhos vêem
o corpo adquire musicalidade, exala musicalidade
capta musicalidade do mundo
capta dor do mundo
e assusta-se
o corpo frenético que dançar
enrijece o menor dos músculos, comprime ao limite o mais frágil dos ossos
e na cabeça
choque atrás de choque
um estalo aqui, outro acolá
ouve
você ouve
e só pode deixar ouvir
uma brincadeira de imagens sucede, sem controle
não faz parte do comum, mas de um seleto comum
você toca e ouve, sente a batida do corpo, do outro corpo
e numa sinfonia triste teus músicos se afinam a dor
aos calores e às friezas
que despontam sem sentido
enquanto as margens de um caderno se fundem
faz batalha de dragão e mago
merge tudo
vira flor
desabrocha
vira dama
levanta a saia
te perguntam o que está acontecendo.

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