segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Correm depressa os ponteiros...
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Hábitos de um espírito geológico
terça-feira, 13 de setembro de 2011
O bebê e as línguas
Indiferenciado e impessoal, o bebê teria mais a dizer à nós do que suportamos, adultos que somos, especializados que somos, sofremos de nossa própria designação.
Já dizia um fílosofo querido: o bebê é pura potência, está continuamente experimentado a si e ao mundo, ele está muito além deste núcleo duro da subjetividade ao qual nos encontramos encurralados - o eu.
É uma centelha, uma vibração, isto é, uma vida, diria este que é Deleuze.Atravessando aquilo que é mais empírico, mais orgânico, mais pessoal, eis uma vida, uma força que embaralha nossos códigos já enrijecidos.
E ao mesmo tempo, como o é frágil aos nossos olhos bem sabidos toda esta suspensão de juízo que o bebê efetua e que lhe permite um nível de experimentação ao qual nossos hábitos nos demandam a fuga.
O bebê fala por todos os cantos, e nem a fralda, nem a chupeta ou o seio o calam, ele não faz o jogo da falta e da necessidade, ele é uma bomba de desejos.
Explosão intensiva, empiricamente invisível. Nós em nosso voluntário endurecimento, já não o vemos e confundimos esta fragilidade, esta suspensão, esta potência que o bebê carrega com uma fraqueza, e justamente este caldeirão desejante que arrebenta todos os paralelepípedos em que encontramos esta uma vida.
Fizemos do ato uma necessidade, e desde então aquilo que chamamos de liberdade não passa de uma palavra, pois toda nossa potência foi convertida no ato, e sofremos desta determinação da potência, desta determinação que nos designa um eu, uma pessoalidade, uma especialização - afinal, isto que nos insere no mundo adulto e nos fecha a possibilidade de mundos outros.
E o bebê, impessoal e indiferenciado, é esta presença que arrebenta as paredes do mundo adulto, é uma língua, que para além das gramáticas, faz das sensações um mundo outro possível.
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Roubaram-lhe os cabelos
quarta-feira, 7 de setembro de 2011
Na fenda a vida crescia
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
O papeleiro
terça-feira, 12 de julho de 2011
Tempo morto
quinta-feira, 7 de julho de 2011
Partidas
segunda-feira, 30 de maio de 2011
Prenúncio de uma escutação
Como furar o ovo que se comprime à nós, caro Abreu? Aquele muro branco, que quando dito, somos perseguidos pela multidão. Aquele muro que é o ovo de cada um, aquela parede que insistimos manter, e assim há eu, e você. Você, e eu. Será que nos resta apenas uma opção, aguardar, enclausurados, nosso sufoco? Onde estão as vias do possível? Um pouco de possível, senão sufocamos, não é Deleuze? Em meio a tantas políticas públicas, falta-nos aquela que combata esta cronopolítica, onde o tempo e a disponibilidade são exceções em meio a um mar revoltoso de vertigens, entre congelamentos e acelerações, como diria o amigo Pelbart. Em meio a isso, que espaços de comunicação, diferentemente dos de informação, temos em vias concretas? Que momentos, que passagens abrem espaços para uma escuta de silêncios, espaços onde a escuta não é confissão. Escutar como uma espécie de arte, daquelas em que nos percebemos frágeis elos entre forças poderosíssimas. Será que bastaria colocar à espreita nossos ouvidos nessa parede, auscultar o outro de fora de nossa casca? Estar perto o suficiente, afetar-se, não seria esta uma possibilidade para que este branco asséptico se contamine? E na contaminação mútua, esboçar um mundo comum? Mundo em que coincidamos com os desejos e o gosto de viver, de alargar horizontes, ao invés de afunilá-los? Medeiros, Medeiros, será que poderíamos fazer pequenos traços rumo a uma cidadania outra, movida não pelos contratos, mas por delicados códigos do coração de cada um? É preciso sensibilidade, Pessoa, para interromper um estado, parar de dispersarmos nossas vidas em elipses absurdas. Eis que é preciso fazer recordar, recordar a escuta, lembrando da origem latina de recordar - re-cordis - que significa fazer passar pelo coração. Escutar pelo coração.
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Aberto à porta
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Segurança
sábado, 16 de abril de 2011
De pé arredio
domingo, 27 de março de 2011
Meu nome é captura
cede a mim a tentação de em dias de luto
vão esperar, lacuna que se presentifica
pesados para pensar, pesados para falar
que dirás de gozar?
homens cujo corpo reside adormecido
sem ousar o próprio gesto
pois a face que anuncia
é o caixão que denuncia
e num passo titubeante, renuncia
encarcerados por seus próprios esquemas
dos desejos que restaram, um vergonhosamente sutil
gregários, vergonhosamente expõem à 4 paredes
o compromisso se faz no silêncio
mas homens de compromissos são meros subordinados
pactos, homens de pactos, corruptos à sua natureza
são os capazes de tamanha ação, e tremenda comiseração
pacto com o abismo, filiação à nada
se renuncias a mim, captado pelo belo e pela moral
as penúrias deste transcendente há de corroer a pele
e findar os ossos ao controle, mesuras à teu tirano
vos ofereço os gritos daqueles que aventuram pelo caos
e a coragem daqueles que firmam a vida nos descompassos
nos maremotos, nos terremotos, nos vulcões e furacões
mas não me acompanha homem captado, tu funcionas assim
derradeiro e sedento por ordens
a ditadura vinga em vossas almas
terça-feira, 15 de março de 2011
Ultimato
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
Tua pele expirou
domingo, 20 de fevereiro de 2011
Existe crime maior?
disse tin-tin por tin-tin, não me ouviste
agora indignado, se insurge
em meio a lingeries e suspeitas brumas
diz-me ser um assassino, um assassino de si mesmo
sem saber ao certo o como
estranho como,
como alguém se mata sem cometer um suicídio?
E mesmo assim, se insurge
Cansou, esgotou, odiou! Há algo que lhe resta?
disse a tantas por entre tantos, não me escutaste
agora braveja
em meio a fantasias, braveja
e este como lhe atravessa
por isso odeia tanto essa ofensa maior
avaro deste crime incontido
estranho à sua própria morte
como um homem comum
sábado, 12 de fevereiro de 2011
Encontros literários - VI
disse o menino ao então desconhecido
segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011
Artaud e Meireles num encontro saramagal
quinta-feira, 27 de janeiro de 2011
à ti, desertor
quinta-feira, 20 de janeiro de 2011
O que eu explico?
domingo, 16 de janeiro de 2011
Uma imagem, um modo de vida
Vamos botar o afinal de lado e pôr as coisas em panos claros e escuros, aveludados e ásperos, transparentes, vibrantes, opacos, pesados. Nada de claridades redentoras, nada de essências justificadoras, falemos que nem gente grande do corpo, com fantasia e imaginação, e sem apego à definição.
Oras, percepções corporais são diferentes: um atleta, um serralheiro e um burocrata não têm o mesmo corpo. O que ativa o corpo para cada um é tão diverso, mas não nos enganemos, jamais se ativa o corpo em sua totalidade! A ativação é modal! Ativo o modo escrita de meu corpo regado à coca-cola, outros à álcool, e outros simplesmente não ativam, pois outros circuitos estão em jogo.
Ativamos esquizofrenia e neurose, alegria e nojo, pavor e amor. Ativamos sensíveis, paixões.
E os efeitos de superfície? E a vibratibilidade da pele? O timbre da voz, da garganta, do estômago?
Ativamos defesas sem cessar, defesas contra o outro, defesas contra a falta de terra, defesas contra este movimento indisciplinar do próprio corpo.
Como um fio, o trançamos em um determinado ponto inúmeras vezes, para que fique bem preso, embolotado, estável, ou como dizem as más línguas, "centrado".
As mãos que tecem o fio só não percebem que são o próprio fio, e em determinado momento, mãos embolotadas.
Quanto tempo despendido para retornar os fluxos em corpo centrado, ainda mais quando o coro dos centrados agem como mãos que não desembaraçam o outro, aglutinam em torno do bolo para proteger a si mesmas do que é diferente em si e nos outros.
Extensão? Não, uma bola de neve bem no cume, bem equilibrada de uma montanha que só cresce. Uma hora territórios movediços encontram a montanha, e terremotos acontecem. Avalanche de centrados abaixo a colina.
Sorte que o corpo é feito de fios de pontos desconexos! Se desaba, outra forma atualiza! Se aglutina, desconecta aqui, agencia acolá!
Mas a imagem sempre fica em desatino quando se fala de corpo, o corpo sempre parece ser mais real, mais excessivo e volátil que a imagem. É um desafio domar o corpo, mas quando se trata da imagem, é como sempre estivesse no mesmo lugar, tão ilusória quanto falsa, sendo apenas um efeito do corpo.
Separar o corpo de sua imagem, e a imagem de seu corpo não seria reafirmar uma longa dicotomia, daquelas que adora aparecer para mostrar que séculos passam, mas continuamos a pensar em termos de dualidades? Imagem é um efeito histórico do corpo, a materialidade do corpo produz suas imagens e a sensibilidades para captá-las. E a história e sua materialidade sempre escondem seu duplo, o fetiche pelo corpo esquece o processo de produção do corpo por suas imagens, seus esquemas, anatomias e representações.
Um corpo chinês e um corpo americano, um corpo europeu e um corpo africano certamente não são os mesmos, por mais que uma "ciência" diga que todos tenham as mesmas estruturas, mesmas simbologias ancestrais. Universalizam as estruturas para universalizar os modos de vida.
E pelo tempo que me é concedido, antes uma imagem que desaba e produz outros corpos, do que um já configurado pela bioengenharia.