sábado, 13 de dezembro de 2008

A raça é humana!

A raça é humana,
negros, brancos, pardos ou amarelos
A raça é humana
Americano, europeu, africano ou asiático
A raça é humana
A distinção só está na cabeça
A raça é humana
homens e mulheres, idosos e crianças
A raça é humana
Sua cultura não o faz mais humano,
o que te faz "ser" humano são seus irmãos
A raça é humana
Irmãos judeus, católicos, hinduistas ou budistas
Irmãs das arábias, do candomblé ou da igreja
A raça é humana
Todos viemos da mesma mãe,
esse planeta de riquezas abundantes,
e ela não julga quem merece ou não compartilhar de suas riquezas,
o ar, os frutos e a água que ela oferece são para todos,
suficinentes para garantir a harmonia e a boa vida para todos,
mas não para sustentar o mimo de cada dia
A raça é humana
nós não somos alienígenas compartilhando esta terra
somos todos da mesma origem
a origem humana
por mais que queiram implantar diferenças,
continuamos humanos,
continuamos irmãos,
e responsáveis uns pelos outros,
assim como responsáveis por esta mãezona
Todos têm direito a vida,
a usufruir e experimentar a vida,
curtir a diversidade,
seja ela cultural, sexual ou como for,
temos nosso livre-arbítrio para guiar nossas ações,
no pensamento e no coração não há quem mande senão nós,
esses territórios são os que nos permitem ser únicos, singulares
como todo irmão à sua volta
A raça é humana
E não tarda nos lembrarmos disto,
antes que mais uma vez irmãos combatam irmãos,
que terras produtivas virem campos de guerra,
que os rios sejam banhados em sangue,
que os cadáveres pútridos sejam amontoados nos morros,
as crianças amputadas e desnutridas, criadas para a guerra...
Em alguns lugares isso já é realidade,
a disputa pelo poder, a violência, o desrespeito à diversidade,
e nada impede que um dia isto ocorra por estas bandas,
onde há exclusão, há revolta
onde há revolta, haverá dor,
por isto este chamado para repensarmos os rumos dessa humanidade que vive em sistemas falidos
fazermos uma longa reflexão sobre que sistemas políticos, sociais e econômicos desejamos ter
um sistema baseado no respeito à diversidade, ao consumo responsável, à inclusão e à compaixão
Paremos só alguns instantes desse cotidiano onde devemos a cada dia lutar para ganhar a vida nesse mundo competitivo, tem mesmo que ser assim?
Porque, apesar de tudo,
A raça é humana!

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Autopunição e medo de ser inútil

Me deparei com um velho padrão, um hábito já há muito antigo, mas que só agora eu começo a percebê-lo...
É a autopunição, o flagelo físico, emocional ou mental ao qual me submeto para aliviar a carga de meus complexos de culpa.
Dessa vez me puni duplamente, primeiro um castigo físico, fiquei no sol até sentir-me queimado, e segundo um castigo para meu já triste coração, me privei de mais um relacionamento por causa de minhas culpas e meus medos.
Minhas culpas por causa de um complexo mal resolvido de minha sexualidade perante a aceitação de minha família e do mundo.
Meus medos por causa da perda da liberdade e a conseqüente dependência que o relacionamento possa vir a causar, e desse modo me sentir inútil, um parasita do outro.
E por causa desse medo eu quero me provar o mais útil possível, ser o mais eficiente, auto-suficiente, e nessa relação de independência eu rejeito o mais que posso qualquer ajuda, alias, me oferecerem ajuda é quase uma punhalada nas costas, eu me sinto traído pelo outro, pelo bem intencionado, e me torno desconfiado perante o outro.
E à razão dessa desconfiança eu silencio minha voz, minha vontade e meus desejos, eu espero que o outro adivinhe meus pensamentos e emoções, não me pergunte porque provavelmente não responderei. Tento me livrar de todas as pessoalidades, ser um exemplo vivo, que é meu ideal e minha ruína, pois no mundo dos homens não é possível e nem vale a pena rejeitar o instinto e o desejo.
È preferível que se alcance um ponto de equilíbrio entre o que se deseja ser e o que se é, pois em ambas as extremidades residem a dor da incompletude.
Às vezes me sinto um mártir, que minha vida apenas vale se for pra lutar por uma cauda, um ideal, algo que fizesse uma mudança no mundo e que eu finalmente me sentisse parte do mundo e o mundo parte de mim.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Política? Não, obrigado

não sou bicho político
não sou de levantar fachadas e bandeiras
essa camaradagem não é pra mim
admito, sou só e anti-social
meu convívio com os outros não é baile a fantasia
máscaras e runs misturados a sorrisos falsos
é, estou cansado disso
quero um estilete, um fio de lâmina qualquer
qualquer coisa pra acabar essa ilusão
esse jogo de politicagem que não é mais jogo
agora, é sobrevivência
mas sobreviver pra que?
pra viver uma insinceridade, não
de realidades falsas, basta a minha
ter que ver o falso dos outros? Me livra dessa
Não sou massinha de criança pra qualquer um mexer
formar, amassar e desformar por qualquer um
chega de quaisquer uns!
se é pra viver um ou uns, que sejam os Um e Uns
não uma coisa pequenina, algo bem grande
se é pra viver, que seja com intensidade
que eu esteja morto pros pequenos
meu mundo é dos grandes e dos maiores ainda
quem quer algo que se encontra aos montes na feira?
quero a flor do mais alto pico do mundo
e não me importa se é bela ou não é
me importa que é singular, única
não quero uma flor de plástico de mercado
não quero uma mera representação em minha vida
se é pra ficar comigo, que seja algo total mutante
que morra e renasça a cada instante
viva em eterna transmutação
veja as coisas e veja o belo,
que só o é da primeira vez,
e seja capaz de ver tudo como se fosse a primeira vez
com a inocência de uma criança,
mas da criança só a inocência, a brincadeira e a leveza
nada de criancices e mimados, de criança só o espirito
se vai viver, viva com maturidade,
mas sem os erros dos velhos de serem políticos,
isso é aquilo que sinto
e quem sente, consente
eu não tenho vocação nenhuma na política
aqueles que tem, os saúdo e que tenham uma boa jornada
mas não tentem me levar junto
que de lúdico, a política não tem nada
e em quase nada me atrai
só em ser político para combater a política
de resto nada mais me interessa
e finalmente o paradoxo
para ser contra algo, você se torna esse algo
e só assim entende o que é estar contra
pois agora, você está preso

terça-feira, 21 de outubro de 2008

um novo meio?

um sistema baseado na maleabilidade e flexibilidade
que seja autogerador, autoorganizador e, se necessário, autodestruidor
um sistema baseado no processo, não em uma meta
segmentos auto-suficientes, não hierarquicos
uma transformação do pessoal para o social
do dentro para o fora
possível?

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Silêncio

Caiu a noite, esperava que fosse estrelada mas as nuvens escondem esses vaga-lumes da noite
Só que vejo a lua cheia, tão bela... em um tom dourado
nesse instante, eu me senti silenciado , me senti possuído
minha mente ficou vazia e minhas emoções se acalmaram
e senti o silêncio daquela lua, tão longe, mas tão longe de nós, invadir-me
se pudesse ficava lá sentado, só curtindo essa mãezona dos céus
e nesse completo silêncio, eu me senti bem!
não sei como consegui, pois do modo que a gente vive, nessa sociedade pós-pós-moderna,
arranjar um tempo pro silêncio é considerado perca de tempo
o que nos é dito é para produzir incessantemente, não há tempo pra parar
a vida é curta, então temos que fazer mais e mais coisas para aproveita-la melhor
mas parece que assim a vida encurta!
você fica tão atribulado de tarefas, de deveres e de obrigações e não vê o tempo passar
quando você percebe, você andou tanto nessa corrente que depois de muito tempo,
de muitos andares do relógio você se pergunta o que aconteceu com minha vida?
nós ficamos cheios de "fiz", eu fiz faculdade, eu fiz muitos colegas, eu fiz um bom trabalho
fiz, fiz e fiz! Mas por acaso você sentiu o que você fez, você sente o que faz agora?
Parece que a gente consegue ocupar nossa vida, mas aproveitar só poucos
afinal, quem consegue aproveitar o que se tem quando seu olho está nos bens do outro?
qual o problema da inveja? ela te estagna na vida dos outros, você deixa de viver sua vida
a custo de que? Um barulho incessante, vozes daqui e acolá, dizendo que nada está bom
o tráfego da mente é infernal e o coração é atacado por um turbilhão de emoções,
você perde o foco, perde sua paz e passa a viver dos outros.
Vampiro, isso é o que você se torna, você consegue manter sua imagenzinha enfadonha,
mas a custo da vitalidade dos outros, e sem essa vitalidade você logo definha e desaparece.
Quem aqui segue caminhos originais? Quem aqui leva uma vida criativa?
Todos estamos presos a esse karma a quem chamamos conhecimento e sociedade,
eles nos são úteis, sim! Mas não come metas de vida, mas como instrumentos
a vida por si só existe, mas o que sabemos só existe porque a vida funda todas as bases
e nosso conhecimento é limitado pela vida que temos, pelo corpo que temos
que a percepção de um cão, de um homem e um inseto são muitíssimo diferentes
mas essas percepções se completam numa realidade ainda maior do que podemos pensar
e sinto nessa imensidão desconhecida o silêncio, uma sutileza sem igual
me sinto possuído por algo que está dentro de mim e não é nem cabeça, nem coração
uma alegria me invade, a vida torna-se uma celebração
os cães brincando no parque torna-se festa, as formigas em sua marcha, um musical
a vida torna-se arte objetiva e subjetiva, real e anti-real ao mesmo tempo
díficil de entender isso com a cabeça, mas a idéia não é tão absurda
vivemos falando de opostos, dos dualismos da vida, mas quanto mais nos aproximamos
mas vemos que tudo é feito de uma mesma coisa, os opostos são apenas ilusões
o que muda é a expressão de uma mesma energia, única e silenciosa
um silêncio que permeia a mim e me torna criador, contemplador
um silêncio que nutre minha vida

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Admiração, a hipócrita

O que é admiração?
segundo nosso querido wiktionary, é um sentimento de surpresa, assombro ou espanto diante de uma situação, alguma coisa, algum objeto, e até por um alguém em especial.
Nossa! Então é um bom sentimento? Ele nos trás alegria por acaso? O que acontece quando admiramos? Sinceramente, o admirar é letárgico, você faz alguma coisa quando admira? Não! Você simplesmente se foca no objeto de admiração e fica nisso, um ser parado, recluso e avarento, avarento de visão.
Agora cito Nietzsche uma pequena frase para meditar sobre o perigo na admiração
"A admiração de uma qualidade ou de uma arte pode ser tão violenta que nos impede a aspirar à sua posse"
Quando você começa a se apegar a sua admiração, você se perde, fica estagnado na visão de um quadro! Mas a vida não é um quadro, não é um vaso ou uma casa, a vida é muito mais do que essa superficialidade da admiração. Se o alvo de nossas vidas é a vida em si, por que nos perdemos jogando alvos imaginários no carro do ano, na viagem prometida, no amor platônico e nas mais diversas divagações do desejo? O que se busca na vida? Belas casas, abundância de moedas, roupas da moda são apenas tiros jogados no além, porque nada são além de algumas expressões ,que aqui vou dizer, divinas. Que são elas além da beleza, da graça e da riqueza?
O que a gente busca é ser uma avarento, um limitado, ou um ser aberto, disponível ao caos da vida?
E o que é aquilo que nos apegamos, que possui tanto mas tanto valor que precise ser protegido por uma fortaleza? Em primeiro lugar, se isso é seu e não pode ser tirado, não há motivo para chorar nem tem medo, isso não sai, e em segundo lugar se isso não é seu e pode lhe ser tirado, nem vale a pena ser guardado! Inutilia Truncat! Se não me engano, essa é uma das três máximas dos arcadianos, junto com Carpe Diem e Fugere Urbem , e ela quer dizer: livre-se do desnecessário, simplesmente isso, do que adianta guardar coisas que só te dão peso, que fazem você ficar com retrancas pra tudo que você faz?
E o que é o isso de que tanto falo? São jóias, são livros de conhecimento, é dinheiro, são as grandes virtudes e morais, a quem estamos apegados? Também, mas sabe, é algo que pode ser bem mais simples do que parece, uma trava nas relações que você desenvolve, seu apego a uma atitude, apego aos seus desejos. E agora, o que fazer com esse apego? Joga pra cima e deixa ele se vira, por acaso você se chama apego? Se não abandone ele, o apego é de quem se identifica com ele. Deixe-se livre e solto, as coisas vem e vão, elas fluem na vida, pra que nadar contra a corrente?
Agora vou dar um pulo, ou quem sabe três pulos, pra que da frente cá eu volte.
Qual a ligação do esquizofrênico com a adimiração? Lembro aqui de nosso trapezista do post anterior, o que ele faz aqui? E tem sentido essa ligação?
Não, ela não faz sentido, mas mesmo assim ela existe, nos criamos e condicionamos essa bizarrice da divisão do homem, da mente dividida, quem disse que tudo que se pensa faz alguma lógica?
Nós com nossas artimanhas fizemos o homem a admirar algo que não condiz com sua realidade singular, deixamo-o dividido e sem chão, deixamos ele pendurado nos conceitos, nos valores da sociedade, da religião, mas por que isso? Por que não aguentamos a liberdade, a unicidade? Por que queremos uma legião de escravos para conduzir a nós mesmos, uma sociedade? Por que é tão difícil, se não impossível, do homem viver em conjunto e íntegros? O que faz de um ser livre uma afronta ao outro? E o pior, sabendo disso, dessa influência interiorizada por todos nós, porque não saltamos desses bastões do condicionamento como nosso trapezista tenta diariamente? Cada vez mais consumidos por nossas periferias adquiridas,então deixemos a periferia entrar em colapso!O que é seu seu não vai nem sentir um arranhão, o resto às ruínas!
E agora como sair disso? Como voltar a ser singular?
Bem ,fácil, tome uma atitude criativa! Mas o que seria uma atitude criativa?
Ah mas é claro, é fazer arte, é dançar, é pintar e...e... sei lá, cantar! Se você acredita nisso, desculpa, mas desde quando o criativo é fazer aquilo que os outros consideram criativo? Já imaginou se o mundo todo fosse de pintores? Onde que estaria a criatividade nisso, o mundo seria monótono, sem graça, e aí? E com dançarinos a mesma coisa! Já penso, todo mundo dançando no meio do ônibus, da rua, na igreja? Seria hilário, mas não necessariamente criativo.
Para aquele que já percebeu, se conscientizou de sua vida, ele sabe que a criatividade não é uma ação, mas trata-se de uma disposição interior, um jeito de olhar as coisas.
Você pode ser criativo, que nada mais é que fazer aquilo que se faz com alegria e amor, mas não o apego. A criatividade e a admiração tem uma fraca ligação, pois o que é admirado é novo,mas o novo só é novo momentâneamente, a partir do momento que se foi o que é continuamente admirado torna-se apego, a criatividade consiste em ser novo a cada momento, sem a admiração letárgica de sua obra. A criatividade é uma das expressões divinas que articula a rede de vínculos em harmonia. Ou seja, então quanto mais criativo você é, mais ligado ao divino você está, e caramba, você está em Deus, sejá lá o que ele for. Pois, se Deus é o criador, e com a criatividade se cria, portanto aquele que é criativo é o que mais está perto de Sua dimensão.
Lembre-se continuamente, a técnica , o treinamento e o conhecimento são instrumentos à criatividade, mas ela não se reduz à instrumentalidade. Estar criativo é mergulhar-se no misterioso e desconhecido. Deixar-se livre à energia que cria todas as coisas, que apesar de não ter forma nem estrutura, todas as formas nascem dela. Então pouco importa em como a expressão de sua criatividade se dê, pode ser pintar, cantar, cozinhar, mergulhar, o que importa é permitir essa expressão por seu intermédio.
Mas num é fácil ser criativo né? É? Não, não é.
Ao menos para descendentes de uma sociedade esquizofrênica como a nossa não é fácil, somos muito covardes de unificarmos, porque quando acabar o conflito dentro de nós, teremos que nos defrontar com aquilo que é novo, e meu Deus! Não temos idéia de como será o novo, porque ele num dá pra ser pensado! Que horror! Algo que não conseguimos pensar! Mas pera aí, as maiores descobertas não eram coisas impensáveis? Então qual é esse medo de mudança, por que esse apego com antigo? Que teimosia a nossa hein!
Nós somos, sabe, sei lá, tipo uma semente. Nossa, que loucura! Como que nos somos meras sementes? Com toda nossa bagagem moral, intelectual, tecnológica e tudo mais somos apenas sementes? É. Por acaso a semente tem consciência daquilo que irá se tornar, ela sabe que é uma semente, protegida em sua casca grossa, como pode ela saber do que acontece fora dela? A semente jamais conheceu a flor, ela nem mesmo sabe que traz consigo toda essa potencialidade! Mas a jornada da semente para flor é longa, é árdua, na jornada nada é garantido, podem acontecer mil imprevistos , e a semente sente-se segura dentro de sua casca. Mas mesmo assim ela pode se esforçar e começar a sua transformação, sua alquimia, e assim ela se desfaz dessa capa resistente. Eis que surge o broto, frágil broto, sempre em busca da luz do sol, sem saber para onde nem porquê, caminha ao desconhecido até se desenvolver em flor e exalar sua fragrância, não é um caminho fácil mas esse frágil broto aspira um sonho que mal compreende.
Semelhante ao caminho da semente à flor é o caminho do homem para aquilo que não conseguimos nem imaginar. Mas pra isso temos que ter coragem e meter as caras nessa vida, e não adianta querer negar as intempéries da vida, ou enfrentá-las ou tentar ignorá-las, elas são parte da vida como tudo o mais. A flor teve que passar por tudo para tornar-se o que é, e você? Você acha que a vida ta aí pra se reclamada, a reclamação fica com você , mas a vida vai em frente e num volta por você não.
Mas antes de alguém dizer que estou em contradição, que eu admiro a criatividade, fique sabendo que eu contemplo a criatividade, eu a vivo e a expresso, minha criatividade não dá tempo pra admiração, ela não permite a letargia.
Sejamos o mergulho do Tao, um mergulho na criatividade! Deixar que nossa águia e nosso cisne se harmonizem na dança da vida! E que diabos são a águia e o cisne? Esse cara só fala mais e mais metáforas, que doido! Bem ambos são seres majestosos e alados, mostram nossa capacidade de enxergar além do fragmento, uma visão integrada, holística. A águia, encarnação do poder e da solitude, é macho, é fogo, é vida, e do outro lado encontramos o cisne, a corporificação da pureza e do espaço, mergulhando nas emoções e na beleza, ele é fêmea, é água e morte. Ambos integrados no símbolo da autocriação. Que símbolo da autocriação? Que senão a vida e o homem nela contido?
Deixemos de ser admiradores, ficar na hipocrisia de viver a realidade dos outros, sejamos criatividade sempre, criemos nossas realidades, nossas artes e nossas concepções, pois é uma alegria criar, e uma benção aos demais inspirados com sua criatividade.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

As multidões de um homem só

E era um trapezista em suas barras, se segurando lá do topo do picadeiro
as pernas em uma barra e os braços na outra, e sem nenhuma rede abaixo.
Quê fazer agora caro equilibrista? Não há escadas nem cordas pra escapar!
O único caminho é o chão! Mas, oh! Nada lá embaixo há para te proteger,
lhe resta a dúvida agora, deve largar primeiro as pernas pra cair em pé?
Ou cederá os braços, fazendo com que caia de cabeça?
Ficar na mesma posição e fingir que nada acontece, bem se assim fizer,
será um tolo, porque mais cedo ou mais tarde teu corpo irá ceder
a imobilidade é muito desgastante para tua carcaça humana.
Logo, logo você se perceberá entre a cruz e a espada
esse dilema da mente humana, da divisão humana
tu perdeste a simplicidade meu amigo, e afastou de si
tanto conhecimento, tanta cultura, fez esquecer de sua unidade
o centro permanece intocável, mas suas periferias...ai ai
se tornou tão condicionado a fazer as coisas que agora se contradiz
o padre em ti, a criança em ti, o jovem em ti, o servo em ti
o trabalhador em ti, o pai em ti, a mãe em ti, a sociedade em ti
todos em conflito, combatendo uns aos outros,
fazendo do corpo um campo de batalha, um inferno na terra.
Tu trapezista, tu não és um ser, tu é uma praça de mercado
tem muitas vozes em ti, mas tu está mudo, é servo de tua história.

E agora trapezista, qual a solução? Por que não larga tudo de uma vez?
Se solta e deixa o coração sentir a queda, deixar ele decidir
viemos do desconhecido, e para ele voltaremos
essa nossa corporificação é mortal, é perene
o que a gente diz ser, nosso jeito de pensar são apenas molduras
são cercas em que nos colocamos, mas a cerca apodrece e cai
então por que deixar que elas cerceiem nossa vida?
Por que nos deixar divididos entre o conhecido e o desconhecido?
Oras, o que é hora é conhecido logo será desconhecido
esse movimento é um pêndulo, o inconsciente relativo
é como a flor que se desabrocha toda manhã e de noite se fecha
ela continuará pela eternidade nesse movimento,
até que ela se conscientize de si mesma, ela se fecunde
e o pêndulo sai do movimento bidirecional para algo impensável
a flor vai rumo ao incognoscível, e desse modo se liberta de si
A ilusão, a mistificação da flor termina, ela torna-se incógnita.
Trapezista! Seja uma incógnita!
Queime as cercas, quebre as molduras
e deixe ir...

E agora solte-se, solte-se de uma vez
e celebre sua vida, celebre seu momento, sua intensidade!
Como assim você não vai pular? Que te falta trapezista?
Desconfia da vida? Acha a vida triste?
Já por acaso viu uma árvore deprimida?
Ou um animal neurótico?
Ou quem sabe um pássaro movido a ansiedade?
Você acredita ser sábio da vida por ter muita esperteza,
mas caso não saiba amigo, tua própria esperteza é teu mal
você não é um ser onírico, impermeável
você é desse mundo, lembre-se sempre de parar
parar de divagar em sonhos, fantasias, mentalidades, raciocínios
nenhum extremo faz bem para ti, ambos só permitem ver fragmentos
e como fragmentos, são todos divididos, e não há união
cada pedaço de você se atem a uma realidade,
mas não há fluidez, articulações, integração
só há estilhaços que cortam uns aos outros.
Trapezista, salve-se dessa dicotomia, dessa multicotomia!
Celebre a vida que está acontecendo, experiencie-a
cante, dance , chore, fale , grite, interaja com ela, você vai gostar
tire a maquiagem, tua roupa de trapézio e pule na vida
a festa acontece à tua volta, todo momento! Curta!

Você ainda está incerto, quer pensar na decisão...
Continua adiando a vida, o momento
nunca está bom o suficiente, precisa de mais experiência
de mais conhecimento, de mais "mais"...
Trapezista, adiar é simplesmente estupidez!
Em tua posição, tu acha que será mais sábio amanhã do que hoje?
Terá mais vigor, mais coragem para enfrentar teu destino?
Vou te contar uma verdade, o amanhã nunca chega
e se você sempre adiar pro amanhã, você nunca fará
você estará mais velho e covarde, tua pretensa experiência
Ah... essa salvadora, será tua maior dissimuladora
ela fará tu titubetear mais e mais, te levará a paralisação
amanhã a morte estará mais próxima de ti
e o amanhã, então, pode ou não chegar para você.
Se é pra decidir trapezista, decida!
Deixe de viver nessa paisagem cinzenta, mude
esqueça dos "e se...", mude
é tua decisão de querer cores ou não em tua vida
a consequência de seu adiamento será teu tédio e tua depressão
sentirá limitado e incompleto, sentirá insatisfeito
portanto mude, alivie de teu corpo essas barras
solte e caia na vida, não de força pra indecisão
se desenvolva na liberdade, na tua livre vida
e tu se perguntará o que lhe fez esperar tanto tempo
jogue as multidões do penhasco, cale as vozes que não tuas
e permita-se o vazio, o além
E agora meu caro trapezista? O que fará?
Eu te espero lá embaixo, e você?

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Quebrando o gelo

-As estrelas estão mortas, disse o profeta

-As estrelas estão mortas, repetiram os fiéis

Fez-se o desespero, o juízo final havia chegado aos fiéis

Então fez-se o silêncio das preces angustiadas, a desesperança ergueu-se

Porém um homem levantou na multidão

-Como podemos dizer que as estrelas morreram se o céu está apenas nublado?

E o profeta torna-se imponente ao homem, acudido pela multidão

-E o que tu sabes da vida? És apenas um tolo, não tens fé?

Humildemente, o olhar do tolo encontra-se com o do profeta e lhe diz

-Tenho fé sim, meu senhor. Sei de todas suas predições e de sua veracidade, mas minha fé não está em sua palavra, mas a meu guia. Palavras vêm e vão, causam impacto na gente, mas não condizem com a realidade. É tua a prepotência de que tuas palavras irão matar as estrelas.

Dito isso fez-se outro silêncio, um silêncio desconfortável, e aos poucos ouviu-se murmúrios que logo tornaram-se grandes vaias da multidão, o rebanho de cordeiros estava exposto e agitado, guiado pelo pastor profeta.

-Tu não passas de um tolo sem fé! Abandona aqui sua descrença ou se vá!

Dito isso, o profeta encarou colérico o homem tolo esperando que ele se curvasse, mas para a surpresa de todos, o homem tolo apenas virou-se de costas e partiu.

O homem tolo apenas disse uma palavra para o rebanho e seu pastor: Caminhe

________

Tolo é todo aquele que não segue a crença do senso comum sem questionar, tolo é aquele que não segue o rebanho, tolo é aquele que não funciona racionalmente.

Sejamos então tolos, mas não no sentido de ignorantes e de sempre estar contra, e sim no sentido dos taoístas. Que não permitamos cristalizar crenças de como o mundo é ou criar muralhas de conhecimento em torno de nós. O mundo muda, você muda, os outros mudam, a única constância no universo pelo que parece é a própria mudança. Logo viver num sistemas de crenças não nos prepara para a vida, pois as crenças são tecnologias do modo racional de agir, elas são pontuais, elas são especialistas, ela não permitem nem ver nem sentir a integridade do mundo, apenas um esquema dele. A razão é utilíssima à vida, enquanto serva dela, mas quando a razão torna-se a senhora, torna a vida um ato funcional e perde-se todo o encanto, toda a poesia nela. A razão por si só é limitante, e muitas vezes na vida, não há tempo pra racionalizar os fatos, e temos um outro modo de agir, um modo irracional, mais voltado ao sentimento e a unidade perceptiva, as respostas são mais imediatas e globais, não perde tempo com o processo por etapas, é uma resposta intuitiva, mas que muitas vezes é desconsiderada por não fazer sentido em nossa sociedade de máquinas, racional, onde até os afetos estão tecnologizados.

Apenas porque nós fomos condicionados a colocar um iceberg em nossa intuição não quer dizer que estamos fadados a viver com esse bloqueio em nossas vidas, mudemos isso, nos tornemos numa metamorfose ambulante, sempre renovando nossos valores até o dia que a vida acontecerá por si só, não necessitando de nossos racionalismos para se dirigir. Livre por si só.

Basta fazer como o tolo faz, caminhe.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

De passagem

Sou como um andarilho
vago pela imensidão desse mundo
ao descaso e com passos cambaleantes
procurando encontrar, mas sempre desencontrando
sendo ao mesmo tempo a encarnação e o avesso
coabitando verdade e mentira num mesmo corpo
percorrendo as estradas dessa vida,
por mais incertas e tumultuosas que sejam,
e sempre ao lado de seus companheiros de viagem,
mas nesses tempos meus amigos já não caminham a meu lado
as estradas se bifurcaram, e os detalhes que cada um vê são outros
não se perdem de vista, mas jamais conhecerão as peculiaridades da trilha de seu amigo
há sendas que só cabe a ti percorrer
por mais solitário que possa parecer
mas como as flores da primavera que desabrocharam, a vida continua
segue as estações, o tempo e o além
e ficamos fadados a esse mundo inconstante, mutante
carregamos este fardo do caminho incerto
viver num mundo onde os vínculos mais profundos não passam de perenes lembranças
pois tudo está assim, de passagem

sábado, 20 de setembro de 2008

Desencontros com o desejo

De longe vejo um sutil vulto,
um fantasma, um espectro, e tal é seu poder
que me adula a seu encontro
mas jamais é permitido nosso toque devido sua natureza
é algo que arrasa suas entranhas,
motivo de guerras e revoltas,
e, ao mesmo tempo, motor da paixão
somos entregues a essa busca, esse vil espectro
vil e brincalhão, gracioso como um silfo
movimenta-se a maré dos ventos
e sempre cada vez mais longe
mas meu corpo, denso corpo, não acompanha
não consegue ir além, é um esforço enorme só andar
e o silfo desliza sobre a brisa de primavera.

Ah caro amigo, por que essa esquivez?
não vês que não quero lhe fazer mal?
ou justamente é esse seu objetivo, fugir de mim
fazer com que eu caminhe pelo mundo,
vague pelas ruas afora como um lobo solitário
apenas para...caminhar
sentir as fronteiras que dividem florestas e desertos,
os confins da terra e a profundidade do oceano
e ir além dos céus, encontrar as estrelas
e me deleitar a seus supérfluos.

Escapar dessa redoma a que chamo de mundo
rasgar esse pano estrelado que chamo de limites
abandonar o espírito da gravidade em mim,
ou melhor, libertá-lo de mim
e tornar as coisas livres de mim
até você meu silfo, desejo que seja livre de mim
e brinque entre as nuvens conforme tua vontade,
caminhemos juntos enquanto formos livres

grato à tua presença

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Lua cheia

Hoje é noite de lua cheia, algo percorre minhas veias mas não sei o que é
vejo meu corpo e ele está em guerra, tornou-se um campo de batalha
mas batalha? batalha de que? lutar contra o que? quem?
e o vazio assola mais uma vez, minhas resistências perdem o sentido
e uma pradaria deserta surge do conflito
das mais belas arquiteturas, dos mais vistosos ornamentos
restaram-se as ruínas, quebrou-se tudo que era certo
a vida caminha e eu fico em seus escombros...

Mas a vida é engraçada, ela é sarcástica consigo mesma
constrói sua torre de cristal e logo em seguida a faz desmoronar
e com os restos começa a brincar, volta a ser criança
pega os escombros de suas antigas criações e junta com as novas
monta, remonta e desmonta, mas sempre diferente
as peças são as mesmas, mas a arteira, ah essa vida
sempre dá um jeito de fazer diferente

Como fascina essa indissolúvel companheira
essa artifície da realidade, muda a si e a todos
para onde ela vai o encanto vai atrás
assim como a maré persegue a lua
e os astros dançam entre si

E fora essa mutante, nada me resta
pois todo o resto, nada mais supérfluo
é mel que escorre dos céus, pela lua dourada