sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Ao não nascido

Tu me corrompe, tu me escamoteia, tu me sangueia
eis o sacrilégio, tu insiste em ser profano
tu insiste profanar
o sagrado não te importa
aquilo que já é não te importa
isto não te importa, quer seguir adiante
fugir deste inatismo que se confunde com inativismo
é um basta que tu me oferece
tu insiste em me mostrar as fronteiras do sagrado
e mostrar os terríveis pedágios que o separam da profanidade
o preço? esta pele comprimida chamada víscera
esta pele que fora encorpada e lhe chama ao combate
É na fronteira que tu surge
eis o arauto de minha descolagem
das raízes que se entranham na chuva pasmada
na terra suspensa, que abre minha pele à fragilidade das rosas
e às durezas de seus espinhos
eis a residência de meu coração, bomba anatômica
Hiroshima das fronteiras, é tu, tu que não nascestes
portador de minha vida e minha paixão
e eu, apenas deixo o gesto da morte, pois compreendo
sou apenas uma de tuas passagens...

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