quarta-feira, 4 de maio de 2011

Segurança

Talvez fosse um homem, ou mesmo uma daquelas mulheres castigadas pela vida
era difícil reconhecer ao fio da penumbra, a criatura vagava
num pranto tão profundo que refletia o horror do observador
pranto que lia alma, olhava sem piedade o rastro deixado
à cena um resquício presentificava o ato
rastro que atravessava o comôdo
rastro que atravessou histórias
os fardados chegaram, mas um era irrisório
tão depressa chegaram, tão tardiamente foram pouco depois
os prantos se tornavam soluços, gaguejos
a alma, enfim, quebrada
rasgada
uma ferida, daquelas que nunca fecha
sem chances de cicatrização, ou de redenção
ferida que acompanha o rastro
ferida que se contamina com o sangue de outro
deu três passos para trás, elevo o punho à altura do queixo
por mais força que fizesse, por mais que aquela dor de cabeça se intensificasse
o irrisório estava face-a-face, onde nem cerrando as janelas de nossa alma
nem estourando nossos tímpanos o irrisório deixaria de ser presente
os fortes não choram, agem - pensava o observador
muito sangue derramado cega, e é quando os justos se levantam
naquele momento preciso onde agimos para remoer-nos
daquele ato, justamente julgado, e mesmo assim imperdoável
e os justos, frente ao trágico, cansados das ordens astrais
fundam seu mundo por um desejo minado
para salvar o organismo
a vida deve ser travada ali onde o risco a diferencia
e, sem fim, os justos fazem do outro o campo de guerra

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