domingo, 11 de janeiro de 2009

Sondando a vaidade

Vaidade, sentimento humano que busca a lisonja, a adulação de nossas vestes de pano, de conhecimento e de maquilagens.
Como somos vaidosos, e não buscamos apenas a aprovação de alguém, queremos que gregos, troianos, egípcios e mulçumanos, todos estejam aqui para nos cortejar, nos dar atenção que achamos que merecemos, somos ditadores do belo!
Dizemos o que tem e o que não tem valor, ditamos regras, leis, colocamos valores e crenças uns sobre os outros, se devorando mutuamente, causando rupturas constantemente, podemos pegar vários exemplos em nossa vida esquizofrênica, dividida.
A começar pelo reduto da moda, em suas passarelas os estilistas fazem a lei prima, a do como se vestir para se tornar elegante, bonito, chique, "estar na moda", e outra lei que também está implícita, não é só a roupagem de pano a quem eles controlam as feições, a roupagem de carne igualmente é moldada para um modelo cuja base é a exceção.
Mulheres magérrimas e homens hipertrofiados de músculos, as grandes corporações do ramo escolhem não só o que você tem que vestir pra entrar no jogo das adulações socias, mas juntamente decide quais os cuidados com o corpo você deve tomar, o que você pode ou não comer, beber ou até mesmo gostar.
Transformamos a vaidade pessoal, fizemos ela trancender seus limites, criamos a indústria da vaidade, um complexo para atiçar nossos pontos fracos, nossa necessidade de afeto e e interação social, para ter controle sobre parte de nossas vidas, onde uma concepção de belo predomina sobre a diversidade da vida.
Sejamos sensatos, onde que na natureza há projeto semelhante? Já viu um jardim de flores? Por acaso as orquídeas disputam com as rosas ou com as violetaas para verem quem é a mais bonita? Não parece ilógico essa disputa já que elas são plantas? Cada uma é única, cada uma tem sua beleza, sua forma ,seu aroma. Cada uma é singular do jeito que é!
E nós? Somos milhares de homens e mulheres, e não somos tão únicos como qualquer uma dessas flores? Cada um de nós teve sua trajetória de vida, suas alegrias e seus temores, cada um possui sonhos...e pesadelos, somos de tal complexidade, tal singularidade, que não entendo porque muitas vezes não passamos de uma massa amorfa guiada pela inconsciência, absorvendo valores que nos são jogados, e como esponjas nós simplesmente deixamos tudo entrar sem passar pelo crivo de nossa razão e muito menos de nossa emoção.
O desrespeito a nós, a nossa história, a nossas crenças, tudo para que possamos nos enquadrar, encaixar em um esquema de grupo, de sociedade, que nos considera lixo humano, ela é avessa a quem somos de verdade, ela quer tudo planejado, que tudo seja previsível para que possa continuar a existir a custas de seus indivíduos, seus integrantes, ela gera as barreiras entre os homens, criando a ilusão de que alguns são aptos a ser incluídos e viver na normalidade, enquanto outros não são merecedores do convívio, são excluídos, tratados como a escória da humanidade.
Mas quem é a verdadeira escória? Aqueles que usam seu status socias, suas riquezas e seus conhecimentos para firmar a cisão da humanidade ou simplesmente aqueles que não se encaixam num padrão determinado pela inquisição da verdade?
Já basta da vaidade de informar aos outros seus títulos, seus conhecimentos e seus tesouros, isso é efêmero, isso lhe traz a ilusão de estar dividido, separado dos outros. Cria-se um castelo de fantasias onde você vive e perde o contato com a realidade, com as consequências de seus atos, em sua cabeça você está cindido não da humanidade, pois você ainda integra essa comunidade planetária, o que acontece é que você cria uma fenda na terra, separando você de sua humanidade.
Você agora não é mais um ser humano espontâneo, vivo, simples e criativo, você é um constructo, um rôbo, uma programação. É um ótimo repetidor de informações, mas perdeu sua capacidade de sentir e de criar, suas emoções são pré-fabricadas, se baseiam no que os outros fariam em seu lugar, o que já foi feito em determinada situação, e você é incapaz de desconstruir e (re)construir conceitos, crenças e fórmulas porque você está tão preso a elas, às "verdades" ditas e contidas, que se algumas coisas nelas mudarem sua vida perde o sentido.
O centro de sua vida não é a vida em si, mas a idéia, a "verdade" implantada de como a vida deve ser, algo construído e alimentado por nós para continuarmos sendo servos das emoções, do intelecto, das idéias, da sociedade e todas construções humanas, deixar de tomar o papel de senhores de nosso mundo íntimo, sermos imperadores desse reino que se chama subjetividade, um campo único e que não segue as leis feitas por homens.
Mas não! Recusamos a tomar a dianteira, a responsabilidade por nossas vidas, temos medo, temos vaidade de sermos certinhos, de caminhar com a "verdade", somos algozes e vítimas dessa inquisição contra nós mesmos. Não queremos estar do lado incerto, do incógnito e do incomum, preferimos ficar na vaidade daquilo que já foi provado, do que já foi tentado, a seguir caminhos que são tão percorridos que não há mais nada de novo a se ver.
Tomar a soberania de nosso corpo, de nosso mundo íntimo não tem preço, não é algo especulavel, o valor é sem precedentes comparado a tudo que já foi conquistado por estas terras, mas para sermos senhores de si devemos exorcisar o fantasma da vaidade e quebrar as corrente que nós puxam para o convencional, é hora de aventurarmos, viver na incerteza dos rumos, caminhar as estradas da vida sem se preocupar se isso já foi feito ou não, o que importa é se libertar do medo de percorrer sua vida.

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