sábado, 11 de julho de 2009

Corpos políticos! ... ou será uma política de corpos?

Têm-se falado muito nesta década sobre biotecnologia, esportes e saúde. Muitos dizem que hoje aquele corpo carnudo renegado no cristianismo e na idade média está voltando a ocupar um espaço de destaque na contemporaniedade. A quantidade de teses médicas de cunho biológico sobre o corpo, ou melhor dizendo, sobre esses orgãos do corpo vem crescendo dia a dia. E graças à hipermedia o conhecimento fabricado em uma universidade de Londres percorre extensas porções térreas, e até mesmo oceânicas, para chegar em um microcomputador que pode estar dentro de um instituto de pesquisa na África, numa faculdade da Índia, ou mesmo encontramos essa informação rodeando o cybernauta brasileiro.
Nunca tivemos acesso ao conhecimento tão rapidamente, e nunca fomos tão escravos dele quanto hoje. Podemos perceber que hoje, na sociedade dos autônomos , a autonomia garantida pelo conhecimento é uma faixada. Os especialistas das situações cotidianas se fazem necessários numa sociedade em que seus (des)integrantes são dominados pela insegurança dos vínculos socias, empregatícios e afetivos. A mãe há 5 décadas átras não tinha essa autonomia de cuidar de sua criança como nós temos hoje, ela não procurava uma nutricionista, um fisioterapeuta e uma série de bacharéis em meio a uma infinidade de ramos da saúde, o máximo em que esta mãe procurava era o pediatra da família. E a mãe do século XXI, o que ela faz? Dinâmicas e superativas nos ramos social e com altas pretensões em sua carreira, esta mulher tem uma autonomia a qual lhe permite a decisão, a escolha e o gerenciamento de sua vida que há 5 décadas só viamos os germes do movimento feminista, porém cada vez são mais procurados especialistas em sua vida, o endocrinonolgista pelos pneus laterais (exceto no caso daquelas que, sem medo e com poder aquisitivo, enfrentam o cirurgião plástico), o clínico geral para as freqüentes sinusites, o psicólogo para incentivá-la e tentar explicar porque os homens ficam pavorizados ao ver uma mulher madura, pois a maioria vive na infantilidade mental, e o personal coaching que vai treiná-la a obter altos cargos na empresa que atua, e claro além desses, ao invés de recorrer à antiga tradição oral que passa os cuidados e as minúcias dos bebês de mãe para filha, ela procura um profissional que teve mestrado, se não puder arcar com um doutor, das enfermidades e do modo correto de cuidar da criança e do adolescente.
É errado fazer isso? Não. Mas é esse o meio correto? Não necessariamente. E teria um meio correto de guiar a vida? Meios corretos, vidas ascéticas e todo tipo de preparação é um caminho para obter algo. Por exemplo, qual seria, teimando a um reducionismo fatalístico, o caminho correto para o budista? O budista pretende entrar em nirvana, um estado, ou melhor dizendo, uma transição que nos dá paz interior, um estado de relaxamento do corpo e da mente, e de comunhão com a vida. Porque prefiro dizer que nirvana é uma transição e não um estado? A paz não é apenas um fenomêno interno, ele depende da relação, do espaço que se forma entre aquilo que chamamos de si e o mundo, e o mundo é o Outro, a vida que interpassa e transpassa por nossas dimensões, seja material, linguística ou emocional entre tantas. E seu caminho passa pela corporeidade, por essa mistura de orgãos, sejam biológicos como a pele ou espirituais como os chakras, em um tal engendramento que o correto é obter uma comuna de paz, se seus poros denotam medo, tensão ou algum tipo de pretensão, seu corpo fecha, sua energia estanca, seus músculos contraem, formando blocos, couraças nesse corpo, negando o movimento deste, e em que mundo alguém enjaulado está em paz? Já se viu algum acorrentado, algum enforcado relaxado? E claro, ele está muito menos em paz.
Agora o caminho correto de um militar é diferente do caminho búdico, enquanto este quer comungar com a natureza, o militar quer colonizar, dominar a natureza e a vida, então seu primeiro movimento não é em sentido de um corpo vivo, mas de um corpo arma, a corporeidade é mero instrumento para dominação, é um corpo semi-esgotado, suas possibilidades desvribaram-se, apenas restou a guerra percorrendo suas veias, esse corpo não é o corpo de prazeres ou de desejos, esse é o corpo do aniquilamento. Para dominar algo ou alguém, você deve abdicar de uma coisa preciosa e frágil como uma flor perto de um vulcão, o vulcão é nossa potência de destruição, e a frágil flor repousada no leito rochoso é nada menos, nada mais que a vida. Para dominar o vulcão tem que explodir, deve haver algum desequílibrio, seja sísmico, seja nas concentrações rochosas do magma, ou tirando das metáforas, algo deve se passar seja nesse espaço que reservamos a vida interior, seja no Campo da existência, e essa lava fluente pulveriza em segundos a pequena e mirrada flor. A flor só cresce num ambiente de celebração, e isto não quer dizer que a vida só valha nos momentos de alegria como gostariamos de supor, a celebração que digo não é uma festa egóica de ressaltar nossas conquistas, nosso novo cargo da empresa ou nosso meio século de vida, celebrar não é apenas da dimensão positiva da vida. Celebra-se a dor, a tristeza, mas isso não é apologia do sofrimento ou da depressão. Aquele que ouve não com os tímpanos e o lobo lateral da cabeça, mas sim com o bater do coração sabe que a dor e a tristeza precedem uma transformação, e se é grato por elas, esse é o sentido de celebrar, mas aquele que se afoga na mágoa e no ressentimento é um espírito lamentável, ao invés de cultivar o desapego que lhe garante uma paz, finca com dentes e garras em seu objeto de tortura.
O militar nega seu corpo, nega sua vida, o que lhe resta é apenas um espaço dedicado ao culto de ideais de seus generais e nações. O militar cumpre um papel de missionário, um sacerdote, levando os destrutivos aspectos de sua cultura para outros, sejam indefesos ou não. E nós, que estamos tão longe dessa dimensão armamentista, de conflitos internacionais, e quem sabe jamais teríamos a coragem de pegar num rifle de guerra, seríamos esses militares, fanáticos de seus generais, seus sacerdotes?

Final da parte I
em breve continuarei...

Quanto mais se busca abordar um assunto, se tateia essa bordas que estão lá na extremidade que delimita o saber e o não-saber. As pessoas não falam do que sabem, falam apenas naquilo que está no limite de sua mente e seu coração, então qualquer coisa que for ler, ou ouvir, seja como um rio, inunde-se das palavras e idéias e e deixe-as seguir a correnteza, seja indomável.

abraços a todos

2 comentários:

Edgard Brown disse...

Muito bom o texto. Gostei bastante da parte em que você fala sobre celebrar...devemos sempre celebrar o que acontece em nossas vidas, nem sempre o que acontece de ruim, realmente o será... Parabens.

Anônimo disse...

Celebrar a vida é poder assumir cada dor, cada sofrimento como seu, como parte dela.
Flores não são eternas, pelo contrário, são frágeis e exigem mta dedicação... mas nem por isso deixam de ser encantadoras, principalmente pela sua capacidade de nascer novamente em qualquer lugar.
Ótimo texto, xuxu
beijos