quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Paisagens humanas

Algo acontece nesse mundo. Algo demasiadamente grande.
Ao certo nada se pode se dizer, nem ele nos dizer.
Tão grande e enigmático que nondem sua presença.
Poderia pensar num acontecimento, num devir, ou mesmo num afecto.
É não. É algo que não é além, mas nem por isso aquém.
É de uma qualidade, uma presença.
Isto! Uma presença.
Não é um fantasma virtual, nem uma massa perceptiva.
Esta presença ainda não é formulada, não é um conceito.
Precisa respirar, antes que se torne algo.
Precisa encorpar-se de mundo, incorporar-se ao mundo.
É de um nível, uma ordem que não é humana, ou divina, ou animal.
Mas a presença tem a ver com um algo. Algo que é Outro.
Não é só Outro, mas é Corpo também, e Paisagem!
E seus duplos. Seus espelhos.
Não é um campo verdejante ao pôr-do-sol,
em meados da primavera que constitui a Paisagem.
Nem mesmo são as células que constituem um Corpo,
ou diferenças que se faz um Outro.
Arte em parte apresenta ecos da Paisagem
existe um quê de conservar em si mesma que é comum a ambas.
Corpo e Outro se constituem e restituem no encontro com o mesmo.
Nem um, nem outro encarnam objetos que se sustentam em si,
o Eu não se sustenta em si, mas se sustenta em algo, numa Paisagem.
E a presença estabelece uma relação estranha com estes três elementos.
Ela pende para um, desvia a atenção costumeira, e a foca na rachadura por vir.
Não de surpreender, mas ela intensifica a dobra até seu rompimento,
a comprime para extrair seu máximo, não em qualidade, não em produtividade,
mas seu pico de potência, seu último grito antes do esgarçamento,
que pode ser o mais oco possível, como ser uma lâmina afiada,
navalha de nosso ser. Provoca uma ferida em nossos olhos.
Machucados a luz adentra, chamusca e cega de tanta luz.
O Corpo pesa. O Corpo é obeso, sedentário, e não consegue lidar.
Não é o corpo que vai para academia praticar musculação ou exercícios aeróbicos,
mas é a este Corpo a quem falta nossas artes circenses, a quem falta as acrobacias de afetos.
Sua visão, sua atenção, demasiadamente focadas na Paisagem. Nas Paisagens humanas.
Viu o homem virar uma arte ao avesso, aquilo mais entranhoso foi jogado para a Paisagem.
E tudo virar uma tela, uma mega escultura global e uníssona. E a Paisagem assume seu duplo mais perverso.
Desviada de sua função de compor com, ela se torna sequestrador.
Sequestra o olhar, captura o Corpo e aprisiona o Outro.
O homem foi capturado por sua imagem e semelhança.
Mas o jogo ainda não terminou. Esta presença está lá.
Ali na vizinhança. Ela é grande demais para ser apercebida.
E não são videntes ou iluminados que vêem ela,
mas aqueles que tiveram sua visão fendida,
aqueles que foram tocados pela graça e pelos horrores da presença.
E não foram eleitos, simplesmente estavam lá.

3 comentários:

ra disse...

red seu blog é tão a sua cara! imagino vc pensando nessas coisas tão bonitas e vivas hihi

Kinna disse...

"Sequestra o olhar, captura o Corpo e aprisiona o Outro.
O homem foi capturado por sua imagem e semelhança."


Pode soar meio nerd, mas isso me lembrou 'o estágio do espelho' do Lacan. Aliás, Red, se você ler esse texto depois de estudar Lacan, desconfio que você terá ainda mais a acrescentar.

Renan Carletti disse...

bela pintura com um teclado em mãos. =)