segunda-feira, 2 de agosto de 2010

O que se põe à caça?

Caça-se ao longo do campo
Caça-se fora de plano
A caça é duplo movimento, deslocamento e captura
e desse casamento, a ruptura!
Eis aqui um caçador bem especial,
não se caça troféus ou ornamentos
nem ao menos tesouros perdidos
e também não são bisões seu foco.
Sua mira, onde?
Sua mira, ingrata!
É em seu foco precisamente que tua caça desvira
movimento capturado não mais o é .
Tua caça? A vida,
jamais produtos da morte.
Carnes, unhas, fiapos,
este caçador não se põe à uma fábrica de defuntos,
passa ao largo de uma mercadologia funerária!
Mas sua caça é ingrata,
põe-se a capturar justamente aquilo que quer ver florescer
e olhar muito mata.
Jamais contempla sua caça,
esse réquiem do olhar canta as vidas que não mais,
e inocula as que vão
seu trabalho é vivificar a caça,
e para isso, afastar-se da mesma.
Por isso o trabalho do biógrafo é, a princípio, ingrato
suas caças mais certeiras são precisamente as mais curtas
e jamais se é indiferente com sua caça,
pois a liberdade da indiferença é o grau mais baixo de liberdade

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