sábado, 31 de julho de 2010

Nemesis

Um pé em recuperação, dois na dança. Enfim você passa a entender as marionetes de Kleist, e o que é ser guiado por uma linha, belamente guiado por um fio. Tão sutil, tão fino, e tão desprovido de vontade humana. O movimento, puro, pura brincadeira de forças. Sem reacionarismos do medo e do pavor, apenas entrega. Entrega ao chão e à gravidade.
Os instintos também se vão, corpo sem esforço, que desaba na queda e lhe cai como uma pluma. Não se sabe mais diferenciar humano e animal, pois se despecializaram, despedaçaram em configurações inumanas, sincréticas, diaspóricas. O contra-movimento, o contra-peso não se tornam a negação de fluxos, mas sua intesificação e diferenciação, movimento além da dualidade excitação/repouso. Entrega à determinação gravitacional, e do peso lançar vôo. Um braço que se vai no espaço não é um elemento, mas uma colônia, um povoado de forças, multidirecionais, multidimensionais. Fuga constante dos si, fuga que é luta expressiva. Síntese mutante de um fora. Pensa-se então, a dança, por inteiro, é composição pura?

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