domingo, 5 de dezembro de 2010

Intenso, eis

Intenso, eis o movimento sem fim, pois os movimentos terminam, mas jamais terminam em algum lugar, algum canto recôndito de minha alma ou de minha escrita, o fim, o fim, este não me existe, o fim, e o juízo do fim apenas me deixam à cara atravessada, à cara larga sem volta. Intenso, eis meu mapa, ou seria meu cartograma, tudo à lápis, traçado com a pele, traçado à pele, tinta e sangue. Sangue de outro, brisa de outro, suor de outro, eis meu reino, às traças e aos traços, à organificação e seu desfazer, ao corpo rebelde. Corpo rebelde. Rebelde é corpo que já não é o mesmo, rebelde é o corpo do outro que te apossa, rebelde simplesmente rebelde. À tua vida sem temor, pois só o juízo teme, e o juízo odeia o rebelde, tal como odeia o outro. Mas a cada palavra, esta brisa sem chão, ao mar que me é lançado, um outro traçado perfura minha pele, e teu corpo rígido, corpo feito de juízo e de outro me tortura. Por que não ser rebelde? Por que não deixar teu juízo de lado, juízo da providência? Pois me deixe em paz carrasco, carrasco que me habita, me fere e me ativa. Carrasco que incita minha rebeldia, pois sou teu outro que me habita, à passeio de um homem, ao passeio de homens. Luzes, câmera, inércia. A ação apenas intensa, jamais as câmeras captaram a ação, mas uma série de inércias à teu peito, e por que não falar do coração, tu que me desorganifica e joga aos ares minhas amadas hierarquias entre corações, fígados e pele, entre sentimentos e pensamentos e vidas, e nem falar as mortes que me desfizeram, sem parar, continuamente é pouco, pois jamais foram contínuas. Cisão e erosão, jamais deixei de ser geólogo, jamais deixei de ser terra, mesmo que digam que sou aéreo, sou terra que se engole. Fraturas, fissuras, reformulações, transformações. Tudo para despedeçar as personagens de meu juízo. Intenso que me abriga sem coesão, pois o campo está aberto, e tal como a terra, desde sua superfície à seu magma tudo é descontinuidade, descontinuidade corporal, descontínuo de espírito, espríto pra alguns. Apenas uma pequena luz que ilumina ora cá, ora lá para ver teu corpo sob as frestras da janela, janela que tu nunca entendera, janela vibrátil, incapaz de ver com a perfeição que tu desejas. Sou teu outro, já lhe disse, pois tu me é outro, como falara, antropofágico, gosta, se não ama devorar os homens, devorar teus espíritos para uma mudança radical. Não. Ser não há mais, mas processos, feixes, feixes de ossos acoplados, feixes de distensões. Como não te incluir em meu mapa, como não devorar você em meu estômago? Teu cheiro, tua pele, tudo orgânico, orgânico demais para mim, e por isso tu me altera tanto. Alteridade viva, fator de alterificação. Tu lês aqui e vê droga no ar, mas não, não há drogas, não há intoxicações, apenas tóxicos demandantes. É preciso fazê-los passar, os tóxicos lhe pedem passagem que não é a endogenia, não é pra dentro, mas teu sangue deve cair aos tóxicos, ativar fluxos em sobriedade que o juízo não lhe permite. Tu me dizes loucura, mas loucura não é introjetar tudo que aos olhos brilham. Um universo te toca, é preciso seus devires, surfar nestas ondas de lugar nenhum, tocar o juízo para lugar nenhum. O corpo se cansou de ti, mas não de tu. Sei que não entendes, és o paradoxo! O corpo se cansou do mesmo, cansou de ser o mesmo, de processar o mesmo. O corpo quer se rebelar de ti, o corpo que rebela. Já não posso, já não pode, já não podemos, a inércia retornou. Quero teu movimento, tu quer meu movimento, somos duas vidas ausentes sem eu e tu outro, o mesmo faz da ausência uma vida, deslocada do juízo e sua totalidade, totalização orgânica. Deslocar, descolar o orgânico, rumo ao mineral se torna necessário, atingir a mineralidade e, enfim, enfim nada, a preciosidade não está em um fim, apesar que os meios remetam a um fim. Não, é experimentar o anorgânico, o formal rumo ao informe, experimentar a intensidade do informe, a intensidade de nosso encontro, nossa conjugação, onde não se tece mais eu, tu, mesmo e outro, mas um nós sem fim.

2 comentários:

Fernando disse...

Não confundam minhas núpcias com o mundo com um relacionamento conjugal de romantismo duvidosamente humano

Rayssa disse...

bebe

eu tava lendo o seu texto (ou ele estava me lendo, enfim) pelo google reader e não vi a auoria... e fui vendo que era a sua cara, tava quase salvando e te envando por email... hihi
se uma definição, mesmo que momêntanea sua foi feita, aqui ficou registrada.