domingo, 16 de janeiro de 2011

Uma imagem, um modo de vida

Afinal, quem tem um corpo? Afinal, um corpo movido a quê? Afinal, por quê raios falamos do corpo sempre em um fim!?
Vamos botar o afinal de lado e pôr as coisas em panos claros e escuros, aveludados e ásperos, transparentes, vibrantes, opacos, pesados. Nada de claridades redentoras, nada de essências justificadoras, falemos que nem gente grande do corpo, com fantasia e imaginação, e sem apego à definição.
Oras, percepções corporais são diferentes: um atleta, um serralheiro e um burocrata não têm o mesmo corpo. O que ativa o corpo para cada um é tão diverso, mas não nos enganemos, jamais se ativa o corpo em sua totalidade! A ativação é modal! Ativo o modo escrita de meu corpo regado à coca-cola, outros à álcool, e outros simplesmente não ativam, pois outros circuitos estão em jogo.
Ativamos esquizofrenia e neurose, alegria e nojo, pavor e amor. Ativamos sensíveis, paixões.
E os efeitos de superfície? E a vibratibilidade da pele? O timbre da voz, da garganta, do estômago?
Ativamos defesas sem cessar, defesas contra o outro, defesas contra a falta de terra, defesas contra este movimento indisciplinar do próprio corpo.
Como um fio, o trançamos em um determinado ponto inúmeras vezes, para que fique bem preso, embolotado, estável, ou como dizem as más línguas, "centrado".
As mãos que tecem o fio só não percebem que são o próprio fio, e em determinado momento, mãos embolotadas.
Quanto tempo despendido para retornar os fluxos em corpo centrado, ainda mais quando o coro dos centrados agem como mãos que não desembaraçam o outro, aglutinam em torno do bolo para proteger a si mesmas do que é diferente em si e nos outros.
Extensão? Não, uma bola de neve bem no cume, bem equilibrada de uma montanha que só cresce. Uma hora territórios movediços encontram a montanha, e terremotos acontecem. Avalanche de centrados abaixo a colina.
Sorte que o corpo é feito de fios de pontos desconexos! Se desaba, outra forma atualiza! Se aglutina, desconecta aqui, agencia acolá!
Mas a imagem sempre fica em desatino quando se fala de corpo, o corpo sempre parece ser mais real, mais excessivo e volátil que a imagem. É um desafio domar o corpo, mas quando se trata da imagem, é como sempre estivesse no mesmo lugar, tão ilusória quanto falsa, sendo apenas um efeito do corpo.
Separar o corpo de sua imagem, e a imagem de seu corpo não seria reafirmar uma longa dicotomia, daquelas que adora aparecer para mostrar que séculos passam, mas continuamos a pensar em termos de dualidades? Imagem é um efeito histórico do corpo, a materialidade do corpo produz suas imagens e a sensibilidades para captá-las. E a história e sua materialidade sempre escondem seu duplo, o fetiche pelo corpo esquece o processo de produção do corpo por suas imagens, seus esquemas, anatomias e representações.
Um corpo chinês e um corpo americano, um corpo europeu e um corpo africano certamente não são os mesmos, por mais que uma "ciência" diga que todos tenham as mesmas estruturas, mesmas simbologias ancestrais. Universalizam as estruturas para universalizar os modos de vida.
E pelo tempo que me é concedido, antes uma imagem que desaba e produz outros corpos, do que um já configurado pela bioengenharia.

Nenhum comentário: