quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Artivismo político

Uma voz na multidão, silencioso grito de uma carne endurecida, batida e amaciada. Escalandosamente cai o portador da voz, contorce-se no chão, e a multidão se aparta do gado repartido.
O rebanho auspiciosamente observa aquele estranho em ninho, ovelha desgarrada, machucada. Abre-se lentamente o círculo da exclusão-inclusão, o circo se apodera do espírito da multidão.

Sob os holofotes do picadeiro o acidentado sobre o asfalto batido que sufoca a terra e os pequenos grãos quer se chamem gramíneas quer se chamem crianças quando crescem é pela marginalidade e ressequidas pela aspereza e sujas pelos constantes atropelamentos desses carros chamados educação e política sem nos referir a beleza assassina dos bons costumes e da tradição que a cada dia ceifa prematuramente qualquer vigor ou lampejo de vitalidade que se faça dentro dos tribunais públicos da vida cotidiana onde se encontra o pilar da sociedade e seu porteiro das pequenas maldades enquanto não chega o vizinho para denunciar sob a porta do 601 que aquele grito que pertubou o asseptizante sono de beleza plástica da alquimista ao contrário era a criatura abominável que vive e cresce às várzeas das ruas da cidade destronada onde a lei se faz cinza e a pastelização é o imperativo categórico moral do bom cidadão que atrela-se aos graciosos bons costumes das marias que não são flores e nem graça possuem mas que vivem como vampiras seguindo as ordens da velha moradora atormentada pela visão cósmica de deuses faz a todos temerem suposto fim de mundo sem saber que tal fim pode ser a recuperação de uma vida que já não se faz mais pela pele ou suas entranhas recheada de medos e supertições tentaculares que sufocam residente a residente extorquindo todo hálito possível que haja num coração que ainda insista em pulsar e a resistência esvanece pois não há homem ou mulher que queira fugir das peles de lobo e suas lareiras intoxicantes cerceando a cama de fuligem em seu pequeno quarto sem janelas ou amor pois mais fácil é descer pelo elevador cego para o além de narciso e entrar em seu carro para amaciar ainda mais o asfalto e atropelar os vermes que ainda insistem em se mexer mas que nunca saem do condomínio até que esses vermes entranham e o inexperiente médico do 104 incapaz mas repleto de glórias e honrarias prescreve remédios que matam esses invasores a custa de um câncer que percorre lentamente e se pulveriza pelas tubulações de cromo enferrujado do esqueleto de vidraçaria estilhaçando com o peso de tantos moradores e ratos adjunto simbióticos a cada indivíduo de bafo de ressaca pela vitória de ter matado as crianças do mundo e substituído por galões de álcool enquanto dormiam sob seus leitos crendo protegidas na casa de seu mais furioso algoz na panoptia familiar restrita a danones desenhos e conexões com os metafísicos mundos cibernéticos do qual enfeitiçadas adultilizam-se à idade de de três a quatro anos porém mais jovens ficando velharacas de museu.

Levantou-se ovelha desgarrada sem respirar, deu com os ombros pra multidão, e partiu enquanto àqueles que restavam nada mais diziam além de:
A culpa é da poluição

Um comentário:

Vinny Days disse...

Bem Saramagal esse experimento pontucional.
(rimou!)