domingo, 21 de fevereiro de 2010

Geocracia - vida plena

As palavras estão demasiadamente desgastadas em universalismos. Um universalismo que acreditamos que atende a todos, quando na verdade atende a vontade de um fractal socio-econômico de boas intenções. Os universalismos se pretendem infalíveis, pois são tidos como a reflexão máxima da humanidade, atemporais e assubjetivos. O desencadeamento máximo de um mundo cujo o paradigma é a relação racional-disciplinar. O mundo já se defronta com a complexidade, e esse pensamento cujo o humano elegeu para ser o pensamento da criação é o pensamento da fragmentação e a eleição deste particular em totalidade.

Para isso se apoia em noções que considera infalíveis: democracia e liberdade de expressão. Democracia foi uma noção captada nos últimos tempos de uma arqueologia aos costumes da antiga grécia, local onde o sujeito não é individual, ou mesmo senhor supremo de sua ação. O sujeito dessa democracia, ou cidadão como preferem alguns, não era representado, ele era atuante da política - política de si, política de sua casa, política da pólis. Na sociedade que não cessa de se atualizar hoje, não cessam de nos reprogramar como indivíduos, com nossa imútavel realidade interior, pura onde nada de exterior possa mutar-nos. Cada um em seu formato bola de gude, se(ndo) atira(n)do nas redes de relações. O indíviduo teima em dizer que sua vontade vem de dentro, que é pessoalística e intransferível. Na real, temos mais impessoalidades do que gostariamos pensar em ter. Achamos que temos tesão por um corpo porque ele ativou recursos de nossa história infantil, o primado do coito na mente, e achamos isso totalmente particular à famosa "história de vida" que todo indivíduo carrega. Altares onde os cadáveres adquirem uma sobrevida e podem se procriar, realimentado a carne nefasta que se apodrece. Como diria um poeta

o passado não reconhece seu lugar: está sempre presente - Mário Quintana

A liberdade de expressão recai na mesma chave da imutabilidade essencial de um ser que autonomamente constrói a si. Lhe é varrido da memória que seu próprio pensamento é carregado de um discurso que passa por universos coletivos, arquiteturais, políticos. A fantasia que o criou é eleita como o céu que recobre a terra, mas não são capazes de ver que tal céu é um imenso guarda-chuva, cuja haste se infiltra na terra. O céu que nós vemos brota da terra que pisamos. Vivemos entre este chão e nossas fantasias. Ao guiar-mo-nos pelas estrelas, não somos tão livres assim, sempre estamos nos referenciando a algo, seja ao instinto, seja à linguagem, seja à um código. A liberdade que nos é possível não deriva da escolha entre uma ou outra chave de pensamento, mas da contínua construção de chaves de pensamento, de modulações que permitam a vida agir em sua alegria, em sua potência expansiva.

Liberdade é alegria, mas jamais alegria individual. O humano é um folheado sincrônico de corpos. Se o outro que não nos afeta é alegria, não poderemos nos dizer livres, apenas parcialmente livres. São folhas transpostas de temporalidades, de corpos humanos e inumanos, corpos materiais e virtuais. E é na alegria de uma ética que se pauta no vivido, e não de uma moral nascida da angústia de viver que não nós, mas o mundo se torna livre.

Um comentário:

Fernando disse...

Errata:
Se o outro que não nos afeta é alegria, não poderemos nos dizer livres, apenas parcialmente livres.

o correto é:
Se o outro que nos afeta não é alegria, não poderemos nos dizer livres, apenas parcialmente livres.

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