segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Reprodução assistida!?

Dias estranhos são esses os paulistanos
cada tempo, cada rodar das engrenagens
sem cessar alimentam máquinas
máquinas de sonhos dissipados
oleiam este tic-tac descompassado
máquinas de pensamento asséptico
máquinas de reiteração
a novidade hoje é peculiar
preservativos mentais
para que não se infecte com os pensamentos de outrem
o fantasma do HIV já não é mais só do corpo
tomam cuidado com todo sêmen, toda fluidificação
pois ao menor contato, correm riscos
ficarem a mercê do mundo sem seus clichês reparadores
ou pior- ficarem grávidos de idéias.
Quanto à falta de clichês, logo outros surgirão
mais rígidos e perversos para com tudo que vive
Já do outro lado...
Quem gesta o gozo do outro passa por apuros
de manhã o coito,
de tarde a gestação,
de noite o parto
Sêmen não querido, inoportuno
é diferença que se forma
e em dias paulistanos, quem sabe nova-iorquinos também
é a rotina que conta - a segurança inabalável do mesmo
arrasta-nos pra campos dos quais não compactuavamos
e a desconfiança do momento nos livra de tais pactos nefastos
pactuo minha alma com a tua, e ambas desaparecem
me esquivo de tua alma e vivo, e engravido de ti
e uma nova coisa surge, diferente de eu e de você
e a diferença ora me gratifica, ora me arrasa
mas idéias que nasceram prematuras, logo colapsam
outras nascem na UTI
e muitas precisam ser abortadas
- não se suporta a gestação
para acabar com o mal-estar
aspirina
meditação
reza
relaxamento
estas táticas que adiam a guerra que jaz em nós
mas para evitar isso, o mal-estar desde já
preservativos mentais
escolha sua teoria, escolha seu filtro
viva de um pensamento asséptico, que se reproduz
ou melhor, que sobrevive
o pensamento pode ser bissexual, mas não é hermafrodita
nada de novo acontece sem parceiros - antigos ou novos
a masturbação mental está em alta para paulistanos
e o sexo definha entre quatro paredes...

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