sexta-feira, 28 de maio de 2010

Inumanizar

Não, esta questão não é precisa. Ela não é nem necessária, nem objetiva. Esta questão surge para muitos como contragosto, man não no sentido de um ruim, não, não. Contragosto no sentido alimentar, um gosto que limpa o vício do paladar. Não é então uma questão de necessidade, mas de sabor. Um sabor, dentre tantos, mas pra quem tá viciado em chocolate, por que mudar? Experimentar, experimenta-se, mas nem sempre é uma coisa feliz, às vezes, nosso cardápio já está bom, por que querer o exótico? Por que uma raposa prefere este, e não aquele, peixe? Um bom sorriso na face já é uma boa explicação, mas dizem que sorriso é humano? E no decorrer das coisas, me questiono, o que é humano? Um comportamento? Mas comportamento, o que não tem? A pedra também se comporta segundo seu modo, o de ser pedra. Boa pedra, má pedra. Boa pedra, segura a porta pra não fechar com o vento. Má pedra, aquela no meu caminho. Verdade? Não. Coisa mais humana, dizer a pedra ser algo que ela não é. E se eu não quisesse ver alguém do outro lado da porta, é culpa da pedra que tava lá? Colocar a culpa numa pedra? Já ouvi que as coisas tem seu próprio espírito, e o engraçado é, é o mesmo que o nosso. Mas como é o mesmo espírito, se meu corpo é diferente? A pedra não faz o que eu faço, mas o que faz a pedra? sei muito das coisas que faço, mas agora que ando pensando, quem sabe eu vá longe. Pedra, pedra, pedra. Pedra em meu caminho, o que pensas? O que sou pra você? E cá estou novamente tentando me humanizar com a pedra, comunicar com a pedra. Acaso sou louco? Pedir para a pedra nomear o que sou. A raposa ao menos parece que me percebe, mesmo que seus olhos sejam uma figura, parece que há um diálogo impossível. Claro que não há, não se conversa com um caderno. Mas essa imagem, esse desenho infantil... por que não? Pescar com a raposa. Mas um caderno é um caderno, uma raposa é uma raposa, e a pedra, pedra. E eu? Vago. Sei que sou humano, dizem, mas se outro diz, por que seria verdade? Parece-me que uma escrita difícil, dificulta. Mas nem tudo é comunicacional como bem sabemos, ou na confusão que já foi feita, não. Se soubessem os mistérios de uma palavra, ah se soubessem... de nada valem. Segredos e palavras se confundem, pois são feitas dos mesmos materiais: coisas de outro mundo. Vejo que sou humano por outro, e pelas palavras do outro, não sou de modo algum. Se o outro me humaniza, e por coisas que são de outro mundo, tudo que posso saber é que sou de outro mundo. Quando chamamos a pedra de pedra, ela tá lá, inalterável, não se importa do que chamamos. Ela vive no mundo, e nós? Palavra após palavra, somos mais humanos, e eu tinha duas opções: o vazio ou a palavra, preferi a última como vêem. Quis ser um pouco mais humano, fazer parte de um outro mundinho, mundo encantado. Mas logo não vou mais poder ser humano.

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