sexta-feira, 7 de maio de 2010

Urso polar à deriva

Coragem...

Era uma nuvem de algodão que ao meio de tudo possuía um ponto molhado e preto. Grande, quando ficava de pé botava medo naqueles ao redor. Mas o gigante mal se punha de pé, ao contrário, deixava que se acomodassem em seus macios tufos cor de neve.

Sonolento em teu reino, um gélido pedaço de pedra à deriva no mar. Vagarosamente sentado no centro da rocha. Mesmo com suas vigorosas patas que poderiam partir árvores ao meio, tinha medo de sair de seu lugar. Tanto poder que jamais sairia da concha, pelo medo do vão. Quando pequeno, quando ainda uma bolinha de pêlos, passeava pelos redores da pedra, mas foi crescendo com medo do mar.

Era um urso polar que não sabia nadar. Mas por medo de nadar, já não andava. Ficava lá, em seu centrinho, encolhido com as patas sobre o queixo – apenas olhava o movimento. Às vezes ensaiava um pequeno movimento, uma dança com o vento, mas quando sentia a terra vibrar, seus ossos tremiam, e o urso enchia-se de medo. Recolhia-se como se nunca mais fosse se mover.

Ao que ele se guardava? Acho que nem ele sabia. Por que tantas travas, tantos medos? Por que não dançar quando se ama? Queria eu saber as respostas, inventar um final feliz pro urso. Coragem...

Queria tanto que esse urso tivesse coragem para ir às bordas da pedra e tocar o mar, mas não. Eu não tenho coragem de escrever este final, eu não sei escrevê-lo. Queria poder, mas é mais forte que eu. Não sei, me parece que se inventar esse final para o urso, terei eu que dançar com a vida. Dúvidas, dúvidas, dúvidas...

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