segunda-feira, 10 de maio de 2010

Procura-se artesãos

Procura-se artesãos em uma estrada qualquer, daqueles que ficam no acostamento.
Procura-se artesãos que ficam enquanto nós vamos em nossa pressa.
Procura-se, procura-se, procura-se sem fim.
Artesão outro que não satisfaz meu desejo, pois é do outro ser alheio a mim.
Comecei lá trás a correr, não sei o porque, mas parece que a estrada incita a velocidade.
A alma das estradas é puro movimento, é vertigem ao limite.
Tão vertigem que toca suas pontas, e seguimos rodando. Roda sem fim
E aceleramos na abstração, o reino dos pulsos.
Pulsa um. Pulsa dois. Pulsa três. Continua pulsando.
Pulsa e retorna, lança-se de sua origem para atingí-la.
Mas no pulso vemos a desmetaforização da vida.
Cada vez mais fica difícil encontrar artesãos pela estrada.
Se encontra estruturas metálicas, blindadas e bem fechadas, isoladas.
Não, não são carros, são seres autênticos: autênticos seres humanos.
Parece que todos chegaram a uma vertigem que os torna intocáveis.
Mas o preço da ausência de contato é uma busca, parece que algo falta.
Procura-se uma obra que complete. Mesmo que por um instante.
Mas não há obra que complete, pois é impossível completar.
Artesão parava na estrada e fabricava.
Artesão terminava coisa, e dessa coisa já não era mais o mesmo.
Artesão nunca foi autêntico. Artesão é sombra de criação.
Repete movimento ofuscado e desliza. Torce o pé. Beira à estrada.
Parado entrevê passagem desses seres autênticos, e da penumbra realiza.
Que é o artesão senão aquele que cria à deriva? Ser determinado, jamais autêntico.
Determinado? Determinado a desejar, ser que por existir deseja, deseja a vida.
Artesão cria suas própria metáforas.
Este reino luminoso do abstrato não lhe pertence, o artesão de fato é falso.
O verdadeiro é técnico, faz muito bem seu trabalho, e determina-se a ser o que se é.
Verdadeiro são palavras, palavras que viram meus olhos. Mas nunca fui muito autêntico mesmo.
Desejo parar na estrada, deixar de ser humano, apenas parecer sê-lo.
Não vejo muita graça em ser, ou completar quadradinhos.
Desejo algo que me é alheio, para tornar-me outro.
Desejo viver, pois é ela que me difere.
Desejo, desejo, desejo.
A vida é minha suave artesã

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