segunda-feira, 21 de junho de 2010

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Dar nome às palavras é um ato difícil, pois requer um cuidado especial.
Quanto mais falamos, mais facilmente elas nos traem e, mesmo que não seja de propósito, nos incomodamos com elas, achamo-as feias e menos verdadeiras.
Queria uma palavra-tampão às vezes, daquelas que se encaixam perfeitamente ao que queria exprimir.
Mas ela nunca vem, e eu fico angustiado. Angustiado porque nem eu mesmo consigo me entender.
O que se passa em mim é um mistério. Enquanto alguns são um poço desejante, eu não sei a diferença entre o querer e o não querer.
Passei a repetir alguns rituais para ver se acalmava este peito, mas apenas saber o jogo das palavras não bastou.
Mais palavras, mesmo vazio.

As próprias palavras são solitárias. E na solidão me entrego a elas.
Mantenho em segredo a morte que me acalenta. Temo que ao escrever me entregue a uma cripta.
Mas temo que ao entregar-me a mim mesmo a vida se faça larga, e eu não suporte.
Digo temer a morte, mas o que temo é a vida. Na vida, ninguém quer ser o último.
Ser o último a partir, e passar a não estar mais.

Ausências que não escolhemos, pessoas que não mais. E o último vê todos passarem.
Quem suporta ser o último? Por não querer ser o último me vejo tomado pela crença.
Queria por vezes não acreditar, e admitir que, quem sabe, eu seja o último.
Porém o direito que eu tinha em não acreditar prescreveu, eu não suporto ser o último.
Ser o último a partir é ser o último a viver, e como poderei viver sem um ombro amigo?

As palavras nos traem a cada instante...

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