sábado, 19 de junho de 2010

Vermelho de Sangue

Inconformado, meu pai me questionou como eu demorei tanto tempo a responder a pergunta de minha tia ao telefone. Não era ao menos uma pergunta difícil, ao menos para muitos dos presentes.
A pergunta banal foi - Quantos anos?
Sim, eu tive que fazer as contas com meu irmão, minha tia me deu 24 anos, meu irmão discordou, ele era mais velho que eu e não tinha tudo isso.
Tentei lembrar do dia que nasci... claro que não lembro de nada, mas me disseram que nasci em 89... estamos em 2010 e fizemos a conta, seria algo entre 20 e 21.
Meu pai continuou inconformado com o fato de eu não lembrar, e não só, de como eu não me importava com isso.
Sim, eu não conto os anos, pois não sei o dia que nasci. Sai do útero dia 19 de junho de 89, mas nascer eu não sei quando. O nascimento é uma surpresa, quando reparamos é que percebemos, que , nesse exato momento, nascemos.
E as pessoas ficam contando os anos de vida, mas parece que esta contagem é uma contagem regressiva, pois quanto mais alto a contagem parece que o tempo vai sumindo. Os 100 parece ser o limite, ao menos, para muitos.
Minha vida não é uma penitência onde os anos são contados, aliás já tenho dificuldade com os dias. Não sei a diferença que marca tanto em alguns uma segunda e um sábado.
Tem gente que parece que só de ouvir segunda-feira fecha a cara, e ao falar sábado ou um feriado qualquer muda totalmente. Nisso eu sou mais constante, meu humor não deriva de um calendário.
Em meio a tudo isso, uma reunião familiar ao cair da noite, onde vejo ausentes com mais corpo que os transeuntes que dividiam uma pizza comigo. Não que eu não goste dos transeuntes, mas algumas poucas palavras registradas no mundo virtual me vivificam mais do que a presença constante. São alegrias que são despertadas por um comentário qualquer, e que um discurso não fez.
É nesses momentos que penso, família como semblante social de nada serve, o que me importa é uma família sanguínea. Homens, mulheres, animais e coisas pelo qual meu sangue passa, e com isso me nutro, me vitalizo.
Por estar em contato com tais pessoas que sou banhado de vermelho, banhado de sangue.
É por essas pessoas que sou banhado de vida.

Nenhum comentário: