sábado, 26 de junho de 2010

Corpo-linha

O manifesto do contemporâneo é a deserção do corpo. Corpo sem alma, corpo sem sujeito, corpo sem corpo. O corpo é tomado como nada além de um adereço de algo que não se pode chamar sujeito.
Corpo é deserdado de sua visceralidade, sua densidade. Resta é pura vigilância voltando olhos mortais à passagem. Tudo que entra e sai é passível de controle e repugnação: a mesa, o sexo, a criança.
Não é isso que a contemporaniedade deseja? O puro movimento? E pra que um corpo que impede esse movimento? O corpo têm que passar por um processo de desaparância: fazer sumir as aparências.
O corpo é reduzido a pontos, mas não se permite a pontos se estagnarem: são colocados em movimento, e o que resta, linhas. Linhas que saltam, pulam, e jamais sós, jamais se capta o que já foi. Mundo que nega o repouso.
Masakasu Saito mostrou-se um gênio, tornou o corpo literalmente linhas, linhas que são puro movimento. E a única coisa que faz lembrar-nos que ali esteve um corpo são algumas semblâncias desfiguradas, as quais não cessamos de colocar um homem ali, por não suportar o puro movimento sem rosto.

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