Fácil fazer um convite à paz, ao amor e à nobreza de sentimentos. Elementos transcendentes, enrijecidos num campo moral que se faz além do corpo, e que só funcionam quando em minha perversão penso que existe Eu, e que Eu habita o corpo.
Dicotomia assassina- acaba com aquilo de mais vital possuímos. O império da alma oblitera o corpo, e se pudesse, o exterminaria de sua existência. Algo em nós deseja esse extermínio, algo que foi capturado e modulado de tal forma que agora deseja que aquilo que é vital extinga sua flama.
Esse algo que carregamos não cabe na definição natural - nem artificial. Esse elemento constituitivo de mesquinhez não possui a mesma forma para cada singularidade - mas seu resultado é o mesmo: a vida atrás das grades.
Textos amaciados jamais alcançam um encontro. É necessário que a vida entre em risco para mostrar sua potência. Devemos ler crueldades - o que é diferente de perversidades -, que causem tremendo mal-estar, que passem como uma lâmina onde nosso corpo havia perdido o instinto.
Homens de fé. Temerosos dos instintos e que negam as mais belas virtudes do corpo. Negam a vida e aquilo que os afeta - e pior - justificam sua ausência do momento por um mito, e alastram uma mentira ainda maior quando se esconder por trás da cruz - mesmo a cruz atéia.
O outro mundo! A terra prometida! Um brinde ao pervético vício iconoplasta! Qualquer forma que o mito apresente, ele nega aquilo que é necessário para constituí-lo - depende do desejo, depende do instinto para plasmar essas distopias que afastam o corpo de seu instinto originário.
E as utopias dos homens de convicção - um saboroso vamos mudar o mundo? Disfarçado bem sutilmente de vou tomar o mundo da forma com que o desejo. Apenas se troca os desejos constituintes, quais são validados e quais não. E o inferno como um certo filósofo diria - o inferno é os outros. Claro! Para um homem de convicção, encarnação de narciso, tudo que não sai dele, que não é espelho só tem um destino - a feiúra e sua podridão.
Utopistas! São eles que criam o inferno na Terra! Vivem da oposição de valores, vivem da oposição de castas e de ideais. Vivem da oposição corpo e alma! Jejuam o corpo para fortalecer a alma, alma definha pois lhe falta corpo. Dizem ser democráticos - enquanto sua opinião se sobrepor às demais. O outro é o erro, e o Eu que nos separa é deus em carne - e divinamente inquestionável. Infernalmente mordaz com a diferença.
Aos apologistas da diferença, vocês são víboras disfarçadas em pele de cascavel. Quem acham que enganam? Hipócritas! Aceitam as diferenças que não nos tornem diferentes! Agora, se algo é tão absurdo que rompe essa camada morta de pele que nos recobre, até mesmo a pele desse Eu que nos separa em nós e outros - ah meu filho, é nessa hora que você vê a sua baixeza. Torna a diferença um zoológico, ali longe, ilhada onde não possa lhe atingir, e donde possa rapidamente desviar o olhar quando se torna demasiadamente desconfortável.
Homens da mediocridade – são mesquinhos de vida. Fogem da vida a todo custo. Economizam grão a grão de vida para apodrecerem ou serem incinerados no final, desperdiçados. Jamais saberão o que é suficiente de potência, pois não se atrevem a romper os limites de sua mesquinhez. Não sabem o que é ser suficientemente vivo, pois nunca deixaram que seus limites fossem arregaçados, esfacelados pela vida. Demasiado é uma palavra da qual fogem.
Buscam fantasias de verdade para que não precisem enfrentar a vida. Por que verdade? Para viciar as crianças com tamanha droga? A perquirição de um lugar último e que esteja assentado nos valores daqueles que incutiram esse vício na criança? Vil estratégia - se os homens não lidam com a vida, ceifam aonde a vida é experienciada. Na vida não há verdade. A criança não é movida à verdade, nem os animais ou as plantas. A inoculação desse veneno objetiva manter os anciões em seu lugar – assentados em seus caixões, e hipnotizadas, as novas gerações exalam esse tóxico adiante, inebriante. Cheiro de morte e podridão.
Verdades que nos acalmam e nos consolam são o vinho envenenado que corrói nosso corpo. Vicia e nos macula. Esta taça que silencia corações deve ser partida – e os taverneiros deixados em sua inebriante loucura. Ou sanidade, como se dizem. Deixe-os com tamanha perversão.
Para essa existência mesquinha – basta ter a verdade em mãos. Mas para viver, não basta. Não. Precisa encarar o abismo de frente, precisa carregar a crueldade da vida para dela extrair sua potência. A vida não está do lado da verdade.
quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Espírito digital
Os anjos desabitaram os céus
os homens já não olhavam para cima
- ou mesmo para baixo.
Nem ventos gélidos, nem nuvens nômades
já passou-se do suficiente
cansados - mudaram-se
Agora habitam uns chips por aí,
fecham mensagens que não queríamos ver
ou desligam o computador quando se passou a hora
Famosos lags - são eles os responsáveis
se vozes do além já não são ouvidas
resta mexer nos bits da programação
E de erro em erro, traçam nossos caminhos
uma palavra diferente no site de busca
um email de tempos perdidos
Agora são vistos em telas de computador
e não precisa ser médium não
basta ter olhos para enxergar esse espírito digital.
os homens já não olhavam para cima
- ou mesmo para baixo.
Nem ventos gélidos, nem nuvens nômades
já passou-se do suficiente
cansados - mudaram-se
Agora habitam uns chips por aí,
fecham mensagens que não queríamos ver
ou desligam o computador quando se passou a hora
Famosos lags - são eles os responsáveis
se vozes do além já não são ouvidas
resta mexer nos bits da programação
E de erro em erro, traçam nossos caminhos
uma palavra diferente no site de busca
um email de tempos perdidos
Agora são vistos em telas de computador
e não precisa ser médium não
basta ter olhos para enxergar esse espírito digital.
domingo, 29 de novembro de 2009
Passos acelerados
Passos cambaleantes,
Passos ziguezagueantes,
Passos acelerados,
Eu passo, não
Algo passa, eu não passo
Fica, estagna, endurece - quem sabe passa
Custa a passar
Desce rasgando a garganta - passa arranhando
Passa de fora para o fora que me constitui
Passaria a dor, mas não passa mais - não digiro mais
Coisas passam, eu fico - estou preso
Instintos passam, sensações passam - palavras não
Tudo repassa, aos meus passos
Passa paisagem, passa homem, passa animal -passos a passo
Tempo não passa, arrasa
É cruel com nossos passos - é cru com o passar
Passa o passo a passo, e acelera
O tempo continua a passar cru,
Mas você anda passos perversos
Passos apressados de promessas
Passos ao nada que te carrega
Passos ziguezagueantes,
Passos acelerados,
Eu passo, não
Algo passa, eu não passo
Fica, estagna, endurece - quem sabe passa
Custa a passar
Desce rasgando a garganta - passa arranhando
Passa de fora para o fora que me constitui
Passaria a dor, mas não passa mais - não digiro mais
Coisas passam, eu fico - estou preso
Instintos passam, sensações passam - palavras não
Tudo repassa, aos meus passos
Passa paisagem, passa homem, passa animal -passos a passo
Tempo não passa, arrasa
É cruel com nossos passos - é cru com o passar
Passa o passo a passo, e acelera
O tempo continua a passar cru,
Mas você anda passos perversos
Passos apressados de promessas
Passos ao nada que te carrega
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Paisagens humanas
Algo acontece nesse mundo. Algo demasiadamente grande.
Ao certo nada se pode se dizer, nem ele nos dizer.
Tão grande e enigmático que nondem sua presença.
Poderia pensar num acontecimento, num devir, ou mesmo num afecto.
É não. É algo que não é além, mas nem por isso aquém.
É de uma qualidade, uma presença.
Isto! Uma presença.
Não é um fantasma virtual, nem uma massa perceptiva.
Esta presença ainda não é formulada, não é um conceito.
Precisa respirar, antes que se torne algo.
Precisa encorpar-se de mundo, incorporar-se ao mundo.
É de um nível, uma ordem que não é humana, ou divina, ou animal.
Mas a presença tem a ver com um algo. Algo que é Outro.
Não é só Outro, mas é Corpo também, e Paisagem!
E seus duplos. Seus espelhos.
Não é um campo verdejante ao pôr-do-sol,
em meados da primavera que constitui a Paisagem.
Nem mesmo são as células que constituem um Corpo,
ou diferenças que se faz um Outro.
Arte em parte apresenta ecos da Paisagem
existe um quê de conservar em si mesma que é comum a ambas.
Corpo e Outro se constituem e restituem no encontro com o mesmo.
Nem um, nem outro encarnam objetos que se sustentam em si,
o Eu não se sustenta em si, mas se sustenta em algo, numa Paisagem.
E a presença estabelece uma relação estranha com estes três elementos.
Ela pende para um, desvia a atenção costumeira, e a foca na rachadura por vir.
Não de surpreender, mas ela intensifica a dobra até seu rompimento,
a comprime para extrair seu máximo, não em qualidade, não em produtividade,
mas seu pico de potência, seu último grito antes do esgarçamento,
que pode ser o mais oco possível, como ser uma lâmina afiada,
navalha de nosso ser. Provoca uma ferida em nossos olhos.
Machucados a luz adentra, chamusca e cega de tanta luz.
O Corpo pesa. O Corpo é obeso, sedentário, e não consegue lidar.
Não é o corpo que vai para academia praticar musculação ou exercícios aeróbicos,
mas é a este Corpo a quem falta nossas artes circenses, a quem falta as acrobacias de afetos.
Sua visão, sua atenção, demasiadamente focadas na Paisagem. Nas Paisagens humanas.
Viu o homem virar uma arte ao avesso, aquilo mais entranhoso foi jogado para a Paisagem.
E tudo virar uma tela, uma mega escultura global e uníssona. E a Paisagem assume seu duplo mais perverso.
Desviada de sua função de compor com, ela se torna sequestrador.
Sequestra o olhar, captura o Corpo e aprisiona o Outro.
O homem foi capturado por sua imagem e semelhança.
Mas o jogo ainda não terminou. Esta presença está lá.
Ali na vizinhança. Ela é grande demais para ser apercebida.
E não são videntes ou iluminados que vêem ela,
mas aqueles que tiveram sua visão fendida,
aqueles que foram tocados pela graça e pelos horrores da presença.
E não foram eleitos, simplesmente estavam lá.
Ao certo nada se pode se dizer, nem ele nos dizer.
Tão grande e enigmático que nondem sua presença.
Poderia pensar num acontecimento, num devir, ou mesmo num afecto.
É não. É algo que não é além, mas nem por isso aquém.
É de uma qualidade, uma presença.
Isto! Uma presença.
Não é um fantasma virtual, nem uma massa perceptiva.
Esta presença ainda não é formulada, não é um conceito.
Precisa respirar, antes que se torne algo.
Precisa encorpar-se de mundo, incorporar-se ao mundo.
É de um nível, uma ordem que não é humana, ou divina, ou animal.
Mas a presença tem a ver com um algo. Algo que é Outro.
Não é só Outro, mas é Corpo também, e Paisagem!
E seus duplos. Seus espelhos.
Não é um campo verdejante ao pôr-do-sol,
em meados da primavera que constitui a Paisagem.
Nem mesmo são as células que constituem um Corpo,
ou diferenças que se faz um Outro.
Arte em parte apresenta ecos da Paisagem
existe um quê de conservar em si mesma que é comum a ambas.
Corpo e Outro se constituem e restituem no encontro com o mesmo.
Nem um, nem outro encarnam objetos que se sustentam em si,
o Eu não se sustenta em si, mas se sustenta em algo, numa Paisagem.
E a presença estabelece uma relação estranha com estes três elementos.
Ela pende para um, desvia a atenção costumeira, e a foca na rachadura por vir.
Não de surpreender, mas ela intensifica a dobra até seu rompimento,
a comprime para extrair seu máximo, não em qualidade, não em produtividade,
mas seu pico de potência, seu último grito antes do esgarçamento,
que pode ser o mais oco possível, como ser uma lâmina afiada,
navalha de nosso ser. Provoca uma ferida em nossos olhos.
Machucados a luz adentra, chamusca e cega de tanta luz.
O Corpo pesa. O Corpo é obeso, sedentário, e não consegue lidar.
Não é o corpo que vai para academia praticar musculação ou exercícios aeróbicos,
mas é a este Corpo a quem falta nossas artes circenses, a quem falta as acrobacias de afetos.
Sua visão, sua atenção, demasiadamente focadas na Paisagem. Nas Paisagens humanas.
Viu o homem virar uma arte ao avesso, aquilo mais entranhoso foi jogado para a Paisagem.
E tudo virar uma tela, uma mega escultura global e uníssona. E a Paisagem assume seu duplo mais perverso.
Desviada de sua função de compor com, ela se torna sequestrador.
Sequestra o olhar, captura o Corpo e aprisiona o Outro.
O homem foi capturado por sua imagem e semelhança.
Mas o jogo ainda não terminou. Esta presença está lá.
Ali na vizinhança. Ela é grande demais para ser apercebida.
E não são videntes ou iluminados que vêem ela,
mas aqueles que tiveram sua visão fendida,
aqueles que foram tocados pela graça e pelos horrores da presença.
E não foram eleitos, simplesmente estavam lá.
sábado, 7 de novembro de 2009
O império do Reciclar ou...
Dias atuais, todos já sabem a anamnese do planeta. Rios poluídos até sua última gota, pássaros caindo dos céus feito bombas de gás carbônico, das plantas resta um verde esfumaçado quase cinza.
A cidade das luzes, sufocada por uma densa névoa. Seus moradores, pálidos e colapsados como sua cidade. Já aderiram até seu último suspiro a esta paisagem feita de máquinas, gases e lixo tóxico que eles mesmos contruíram. Sujeitos? Não...
A cidade perdeu sua fábula. Se antes plantas, rochas e animais podiam se comunicar conosco, hoje são as máquinas que se comunicam por nós. E só entre elas. É ônibus que fala com farol, briga com os carros e enamora-se da caminhonete. Na indústria um robo fala com o outro, enquanto naquele canto silencioso, lá estãos seres que já compõem paisagem. Mas só a paisagem.
Quem somos nós que movimentamos sem brilho, cantamos sem paixão, olhamos sem alma?
Condenados a essa cinzetude? Mas quem nos encarcerou nesses cantos e recantos desse homem-máquina?
Até uma rocha que rola do topo da montanha para se espatifar possui uma qualidade de graça que já não acessamos mais. E nossa tristonha visão ainda quer nos reatar a esse mundo produzido em nosso torpor, guiando-se como moscas em torno de um reflexo de luz. É ouro de tolos. E quando o achamos, modificamos seu formato e jogamos novamente para a escuridão, onde mergulharemos nesse lodo pegajoso.
Felizes os animais, que carregam consigo um mundo de deleite sem se preocupar com dádivas amoedadas. Vivem aqui e agora. E nós, ainda temos a audácia de nos sentir envergonhadas com esse corpo nosso que é bicho. Como gostamos de inventar mentiras para que elas nos joguem para outro mundo, paraísos de prados verdejantes, onde faremos a atividade humana que mais prezamos, ruminar na grama feito bois. Queríamos ser bovinos! Rejeitamos até o bicho que a gente é para ser outro!
Mas aí que a gente se engana mais uma vez, queremos ser bovinos sem a qualidade de animal, isto é, queremos ruminar tudo aquilo que é feito de lembranças, sentimentos endeusados e ressentimentos sem jamais aceitar o momento que se passa agora. O boi abraça a vida, a gente deserda ela.
E quando antes sussurravam, hoje é aos gritos que aderimos à essa vida mecânica. Reciclar é a ordem. Reciclar não só latinhas de refrigerante, garrafas PET ou folhas sulfite. Têm-se também que reciclar padrões, comportamentos, pensamentos. A ordem é tornar tudo lixo, para derreter e fundir numa nova forma, mas mesma essência.
Assim se faz com o trabalho, mas não só com ele, com a identidade também. Mudou-se a forma do trabalho capitalista, mas essa produção intermitente de riquezas é ganho para quem, para as máquinas? Que elas são as mais beneficiadas com a produção. Elas estão no centro das atenções, e o resto é paisagem.
Identidade é uma coisa que se vem reciclando também. Aliás, é algo que nos tornamos viciados em reciclar, para que possamos consumir novas. Criar, inventar, experienciar outros fluxos? Não, os estilos permitidos são apenas aqueles que estão em alta no mercado mundial. Se não dá pra vender, em sociedade não vive.
É o imperativo do recicle! Recicle os ideais, os valores e os estamentos. Recicle sua vida. Mas jamais, repito, JAMAIS tente viver de uma forma que não está nas vitrines do mercado.
ou...
corra o risco de estar sensível a vida e a abrir fendas em teu corpo cimentado
A cidade das luzes, sufocada por uma densa névoa. Seus moradores, pálidos e colapsados como sua cidade. Já aderiram até seu último suspiro a esta paisagem feita de máquinas, gases e lixo tóxico que eles mesmos contruíram. Sujeitos? Não...
A cidade perdeu sua fábula. Se antes plantas, rochas e animais podiam se comunicar conosco, hoje são as máquinas que se comunicam por nós. E só entre elas. É ônibus que fala com farol, briga com os carros e enamora-se da caminhonete. Na indústria um robo fala com o outro, enquanto naquele canto silencioso, lá estãos seres que já compõem paisagem. Mas só a paisagem.
Quem somos nós que movimentamos sem brilho, cantamos sem paixão, olhamos sem alma?
Condenados a essa cinzetude? Mas quem nos encarcerou nesses cantos e recantos desse homem-máquina?
Até uma rocha que rola do topo da montanha para se espatifar possui uma qualidade de graça que já não acessamos mais. E nossa tristonha visão ainda quer nos reatar a esse mundo produzido em nosso torpor, guiando-se como moscas em torno de um reflexo de luz. É ouro de tolos. E quando o achamos, modificamos seu formato e jogamos novamente para a escuridão, onde mergulharemos nesse lodo pegajoso.
Felizes os animais, que carregam consigo um mundo de deleite sem se preocupar com dádivas amoedadas. Vivem aqui e agora. E nós, ainda temos a audácia de nos sentir envergonhadas com esse corpo nosso que é bicho. Como gostamos de inventar mentiras para que elas nos joguem para outro mundo, paraísos de prados verdejantes, onde faremos a atividade humana que mais prezamos, ruminar na grama feito bois. Queríamos ser bovinos! Rejeitamos até o bicho que a gente é para ser outro!
Mas aí que a gente se engana mais uma vez, queremos ser bovinos sem a qualidade de animal, isto é, queremos ruminar tudo aquilo que é feito de lembranças, sentimentos endeusados e ressentimentos sem jamais aceitar o momento que se passa agora. O boi abraça a vida, a gente deserda ela.
E quando antes sussurravam, hoje é aos gritos que aderimos à essa vida mecânica. Reciclar é a ordem. Reciclar não só latinhas de refrigerante, garrafas PET ou folhas sulfite. Têm-se também que reciclar padrões, comportamentos, pensamentos. A ordem é tornar tudo lixo, para derreter e fundir numa nova forma, mas mesma essência.
Assim se faz com o trabalho, mas não só com ele, com a identidade também. Mudou-se a forma do trabalho capitalista, mas essa produção intermitente de riquezas é ganho para quem, para as máquinas? Que elas são as mais beneficiadas com a produção. Elas estão no centro das atenções, e o resto é paisagem.
Identidade é uma coisa que se vem reciclando também. Aliás, é algo que nos tornamos viciados em reciclar, para que possamos consumir novas. Criar, inventar, experienciar outros fluxos? Não, os estilos permitidos são apenas aqueles que estão em alta no mercado mundial. Se não dá pra vender, em sociedade não vive.
É o imperativo do recicle! Recicle os ideais, os valores e os estamentos. Recicle sua vida. Mas jamais, repito, JAMAIS tente viver de uma forma que não está nas vitrines do mercado.
ou...
corra o risco de estar sensível a vida e a abrir fendas em teu corpo cimentado
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Poemas interativos =D
Colour my world
http://www.newgrounds.com/portal/view/515024
Freedom - Person lost
http://www.newgrounds.com/portal/view/470206
Colour my heart
http://www.newgrounds.com/portal/view/483057
Little wheel
http://www.newgrounds.com/portal/view/498994
nada como poemas interativos para animar o dia =D
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Freedom - Person lost
http://www.newgrounds.com/portal/view/470206
Colour my heart
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Little wheel
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nada como poemas interativos para animar o dia =D
terça-feira, 20 de outubro de 2009
Um estalo antes de dormir
mão com pé, peito com punho, eis a batida
o corpo é instrumento
o corpo canta
inauditas as palavras
mas profundos os afetos
quem dera olhar o chão vê-lo em blocos
mas o corpo insiste, paralisa tudo para ver a dança
ladrilho que vira retângulo, que vira triângulo, que vira moça
parede suja que vira história encantada e baile de debutante
não é invisível, lá está
mas só canções que invadem os olhos vêem
o corpo adquire musicalidade, exala musicalidade
capta musicalidade do mundo
capta dor do mundo
e assusta-se
o corpo frenético que dançar
enrijece o menor dos músculos, comprime ao limite o mais frágil dos ossos
e na cabeça
choque atrás de choque
um estalo aqui, outro acolá
ouve
você ouve
e só pode deixar ouvir
uma brincadeira de imagens sucede, sem controle
não faz parte do comum, mas de um seleto comum
você toca e ouve, sente a batida do corpo, do outro corpo
e numa sinfonia triste teus músicos se afinam a dor
aos calores e às friezas
que despontam sem sentido
enquanto as margens de um caderno se fundem
faz batalha de dragão e mago
merge tudo
vira flor
desabrocha
vira dama
levanta a saia
te perguntam o que está acontecendo.
o corpo é instrumento
o corpo canta
inauditas as palavras
mas profundos os afetos
quem dera olhar o chão vê-lo em blocos
mas o corpo insiste, paralisa tudo para ver a dança
ladrilho que vira retângulo, que vira triângulo, que vira moça
parede suja que vira história encantada e baile de debutante
não é invisível, lá está
mas só canções que invadem os olhos vêem
o corpo adquire musicalidade, exala musicalidade
capta musicalidade do mundo
capta dor do mundo
e assusta-se
o corpo frenético que dançar
enrijece o menor dos músculos, comprime ao limite o mais frágil dos ossos
e na cabeça
choque atrás de choque
um estalo aqui, outro acolá
ouve
você ouve
e só pode deixar ouvir
uma brincadeira de imagens sucede, sem controle
não faz parte do comum, mas de um seleto comum
você toca e ouve, sente a batida do corpo, do outro corpo
e numa sinfonia triste teus músicos se afinam a dor
aos calores e às friezas
que despontam sem sentido
enquanto as margens de um caderno se fundem
faz batalha de dragão e mago
merge tudo
vira flor
desabrocha
vira dama
levanta a saia
te perguntam o que está acontecendo.
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