Chega!
Basta!
Já não se aguenta mais!
É pau, é pedra, é fim de caminho, diria a música
E eu digo: é hora de pegar paus e pedras
Já é hora de deixar de ser ingênuo
Já é hora de revoltar-se com a casa
e hora de explorar novamente a mata
Se há uma pedra no caminho
Se há uma estátua no caminho
Se há uma catedral no caminho
Quem disse que acaba aí o caminho?
Basta!
Basta de sossego!
As palavras estão muito duras, os poetas: mortos
Enquanto isso os tablóides de jornal reduzem o mundo a 26 letras
Troca-se vida por informação
Monta-se o palco, encena-se o massacre e o assassinato
E a platéia, indignada com a situação
Explode-se em catarse de lágrimas
Não resiste a se amortecer com o espetáculo
Olhares vidrados, extinguidos de vida
Ouve-se um grito, um grito entranhal
É a puta que solta seu último suspiro diante do cafetão
É o pai ajoelhado diante da arma que sua filha carrega
É o menino do tráfico acovardado pela polícia-guerrilha
Por um momento, a platéia se choca
Mas apenas um momento,
Pois vira-se a página
E seus olhos secos se direcionam aos cadernos de cultura
Olhos se cruzam com linhas
letras, palavras e frases
mas do mesmo jeito vertiginoso que passa olhar
não se deixa tocar pelo que é escrito
A linguagem corre sério risco
ela já não nos afeta mais
nossa cabeças estão obesas demais para ler
nossos corpos - raquíticos demais para sentir
as catarses que nos assaltam, nos atropelam
mais são deveres culturais do que um corpo que chora
não é um corpo em devir, mas um sentimento em estamento
diante de nosso imaginário, de nossas fantasias sociais
utopias e distopias de um novo mundo
Basta!
É hora de pegar os paus e pedras!
Pegar essa pedra, essa estátua, essa catedral no meio do caminho
e estilhaçar sem nenhum remorso
Quem sabe assim, movendo os músculos, nossos corpos não sintam mais?
Que cada palavra seja obliterada
que denuncie as mazelas daquilo que chamamos
BEM, AMOR, CIÚME, MAL, ÓDIO, VIDA, DEUS
Chega de abstrações!
CHEGA!
Cansei, dessas palavras que a gente usa inconsistentemente
Cansei dessa nossa mania de perverter as palavras
de torná-las nossos deuses e deusas
Cansei das letras que se aglutinam e se dizem de vanguarda
cheias de significados e sentidos, permeadas de metalinguagem
Se a vida não se justifica, porque a linguagem o tem que fazer?
Repugnável poder que o homem dá a palavra da metalinguagem
em troca da submissão da vida à sua ordem gramatical
A linguagem deve desertar-se de seu significado
para viver ela deve rejeitar toda pretensão a uma ordem
tornar-se uma estrangeira em seu ninho
Sair das amarras da abstração
Afirmar sua comunicatibilidade com a vida
segunda-feira, 14 de setembro de 2009
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Conexões corporais
Que tecido é esse? Que corpo é esse? Que pele é essa?
Derme sensível, tocada por forças que nossos olhos, blindados como estão, não conseguem ver.
Forças que amassam a pele, dobram o corpo em alguns pontos à medida que torna plano outras dobras.
Lugares são intensificados e outros são desinvestidos.
Que corpos são esses? Corpos não necessariamente orgânicos, funcionais, talvez, quem sabe, um corpo sem órgãos também caiba aqui. Corpos teciduais, feitos de retalhos, e dobrados, redobrados em uma finitude de componentes, mas numa variabilidade de combinações quase ilimitada.
Não é um corpo que busca o ilimitado, não é corpo desejante em se constituir conforme o Modelo, o Homem, ou mesmo Deus, não é um corpo que queira necessariamente chegar a um ponto fixo, e construir sua casa de palha nas dunas de areia da existência.
As torres de outrora desmoronam, desfalecem, esmaecem tijolo a tijolo, erodidos pelas areias do tempo e do campo. Quem saiba ainda restem Eus empapagaiados, em seus poleiros dentro de suas gaiolas, admirando sua biblioteca magistral, os tapetes de animais empalhados, tapetes defuntos, uma lareira queimando lenha e soltando uma fuligem negra, asfixiante e que recobre o ambiente como uma névoa venenosa.
Lá está esse grande Eu em toda sua glória, feito um papagaio em seu poleiro, prisioneiro de uma gaiola que ele mesmo criou, ele se tornou seu próprio algoz. Não deixa de falar de seu projeto para a humanidade, porém jamais em contato com ela, conta verdades que só o são em sua psicose diária da exclusão, exclusão de tudo que difere de sua opinião. É refém de sua própria conduta, é esse homem velho, cada vez mais jovem nas aparências, que transformou seus valores em suas grades, num ímpeto de reafirmar uma identidade moral já perdida.
Não que não haja moral nos tempos agora pós-modernos, mas a dinâmica dela mudou. Não é mais uma moral individual que foi dada a Deus para alguns espalharem, serem seus profetas, seus sacerdotes, transformando todos aqueles que não são tocados por Deus em infiéis, ou no melhor dos casos, existe a conversão religiosa em seu tenebroso sentido: transformar homens em cordeiros de Deus.
Hoje a moral está mais para um fluxo do que um estamento. Não é mais um relâmpago que desce dos céus e queima, devora a terra, mas é um como o leito de um rio, que alarga e afina diante das rochas da existência, rochas das mais variadas texturas: duras e vulcânicas, dispersas e arenosas, rochas mutantes e metamórficas. Nosso corpo faz o rio, nosso corpo afeta e é afetado pelas rochas, em certo ponto somos a rocha. Nossa moral hoje é corporal, é das mãos que fazem, das mãos que curam, é a moral da célula, individual em sua dinâmica sobrevivencialista, mas quando em relação intercelular produz as mais belas formas de vida: de gramas rasteiras a imponentes orvalhos ou delicadas cerejeiras, de baratas, ratos e lesmas a um bem-te-vi, um falcão, um cisne, de gambás a lobos, cães, leões. Da célula ao animal, da célula ao homem.
A célula é finita, tem sua vida datada, e assim que as areias de seu tempo deixarem de cair, ela entra em processo de desintegração, libera de seu ser seus elementos constituintes, que podem vir a ser usados por outras células finitas, que se combinam em profusão de linhas e vertentes, formam tecidos e órgãos, e tecidos e órgãos formam corpos, e corpos em conjunto se combinam mais uma vem: criam o socius, criam a moral, criam o amor.
Cria-se o amor, e com amor se cria. Um amor que não é feito de transcendentais, um amor que em conjugação com corpos que a cada instante não são mais os mesmos, combina-se, cria uma dobra aqui, e acolá estendemos esse tecido corporal. É claro que o amor não é algo fácil, o amor incomoda, e muito.
Não é como as coerções sociais, médicas ou políticas que permeiam nosso caldo de cultura e que não damos tanto importância, e por isso não nos incomodam tanto, nos blindamos desses diagramas, eliminando aos poucos, ou melhor, recalcando, levando para o inconsciente tudo aquilo que não reluz para nós.
Aceitamos fácil que a cultura deva ser de tal jeito, que a sociedade sempre tem e deve ter seus excluídos, que a política é algo feito de cima pra baixo, ao invés de ser horizontal, com a ativação de nossa voz política e retomarmos nossa capacidade de fazer para nós, e não para uma entidade quase divina como o governo. E discutir se o que o médico receita faz bem ou mal, se ele nos trata de forma digna? Pra que isso!
Mas em nossos tempos, quando se fala de amor é difícil não ser afetado. Ou se é apaixonado por ele, ou emite um profundo ódio quando se toca nele. A indiferença existe, em corpos que já não sentem, mas são poucos que trocaram sua pele por uma fina camada de metal, asséptica, lisa, insensível, imagética, ainda são poucos corpos que perderam suas vísceras para adquirir o status virtual da imagem.
O amor quando em profusão toca corpos, libera resistências e as cisões Eu - Outro vão adquirindo um espaço, quem sabe um não-lugar, onde a distinção já não é possível, um ponto onde já não sei mais quem sou, quem você é, um ponto de urgência, um ponto que realiza transformações sutis ou brutais.
Também pelas péssimas experiências amorosas, fazemos de nossa pele uma armadura, vivemos em estado de guerra, alertas ao menor sinal, rigidificamos o ser, e as dobras se tornam nós explosivos, que ao menor toque liberam uma energia difusa, agressiva e dominadora, que machuca a quem toca, a quem está perto, e a si mesmo.
É difícil desapegar-se dessa densa armadura, a erguemos para nos manter estáveis, parados, petrificados no tempo, mas quando a mão do outro chega, com boas ou más intenções, nos desestabiliza, nos retoma ao fluxo do tempo, e nos obriga a sair, mesmo que seja apenas por um instante, da floresta petrificada em que convivemos.
O outro nos toca, tocamos o outro. É uma conexão em que nos misturamos, é a comunicatibilidade dos corpos que não passa necessariamente pela linguagem, nas línguas mais atuais, é um plugar-se em rede, rede de corpos, rede de seres, rede de vidas.
Redes de amor.
Derme sensível, tocada por forças que nossos olhos, blindados como estão, não conseguem ver.
Forças que amassam a pele, dobram o corpo em alguns pontos à medida que torna plano outras dobras.
Lugares são intensificados e outros são desinvestidos.
Que corpos são esses? Corpos não necessariamente orgânicos, funcionais, talvez, quem sabe, um corpo sem órgãos também caiba aqui. Corpos teciduais, feitos de retalhos, e dobrados, redobrados em uma finitude de componentes, mas numa variabilidade de combinações quase ilimitada.
Não é um corpo que busca o ilimitado, não é corpo desejante em se constituir conforme o Modelo, o Homem, ou mesmo Deus, não é um corpo que queira necessariamente chegar a um ponto fixo, e construir sua casa de palha nas dunas de areia da existência.
As torres de outrora desmoronam, desfalecem, esmaecem tijolo a tijolo, erodidos pelas areias do tempo e do campo. Quem saiba ainda restem Eus empapagaiados, em seus poleiros dentro de suas gaiolas, admirando sua biblioteca magistral, os tapetes de animais empalhados, tapetes defuntos, uma lareira queimando lenha e soltando uma fuligem negra, asfixiante e que recobre o ambiente como uma névoa venenosa.
Lá está esse grande Eu em toda sua glória, feito um papagaio em seu poleiro, prisioneiro de uma gaiola que ele mesmo criou, ele se tornou seu próprio algoz. Não deixa de falar de seu projeto para a humanidade, porém jamais em contato com ela, conta verdades que só o são em sua psicose diária da exclusão, exclusão de tudo que difere de sua opinião. É refém de sua própria conduta, é esse homem velho, cada vez mais jovem nas aparências, que transformou seus valores em suas grades, num ímpeto de reafirmar uma identidade moral já perdida.
Não que não haja moral nos tempos agora pós-modernos, mas a dinâmica dela mudou. Não é mais uma moral individual que foi dada a Deus para alguns espalharem, serem seus profetas, seus sacerdotes, transformando todos aqueles que não são tocados por Deus em infiéis, ou no melhor dos casos, existe a conversão religiosa em seu tenebroso sentido: transformar homens em cordeiros de Deus.
Hoje a moral está mais para um fluxo do que um estamento. Não é mais um relâmpago que desce dos céus e queima, devora a terra, mas é um como o leito de um rio, que alarga e afina diante das rochas da existência, rochas das mais variadas texturas: duras e vulcânicas, dispersas e arenosas, rochas mutantes e metamórficas. Nosso corpo faz o rio, nosso corpo afeta e é afetado pelas rochas, em certo ponto somos a rocha. Nossa moral hoje é corporal, é das mãos que fazem, das mãos que curam, é a moral da célula, individual em sua dinâmica sobrevivencialista, mas quando em relação intercelular produz as mais belas formas de vida: de gramas rasteiras a imponentes orvalhos ou delicadas cerejeiras, de baratas, ratos e lesmas a um bem-te-vi, um falcão, um cisne, de gambás a lobos, cães, leões. Da célula ao animal, da célula ao homem.
A célula é finita, tem sua vida datada, e assim que as areias de seu tempo deixarem de cair, ela entra em processo de desintegração, libera de seu ser seus elementos constituintes, que podem vir a ser usados por outras células finitas, que se combinam em profusão de linhas e vertentes, formam tecidos e órgãos, e tecidos e órgãos formam corpos, e corpos em conjunto se combinam mais uma vem: criam o socius, criam a moral, criam o amor.
Cria-se o amor, e com amor se cria. Um amor que não é feito de transcendentais, um amor que em conjugação com corpos que a cada instante não são mais os mesmos, combina-se, cria uma dobra aqui, e acolá estendemos esse tecido corporal. É claro que o amor não é algo fácil, o amor incomoda, e muito.
Não é como as coerções sociais, médicas ou políticas que permeiam nosso caldo de cultura e que não damos tanto importância, e por isso não nos incomodam tanto, nos blindamos desses diagramas, eliminando aos poucos, ou melhor, recalcando, levando para o inconsciente tudo aquilo que não reluz para nós.
Aceitamos fácil que a cultura deva ser de tal jeito, que a sociedade sempre tem e deve ter seus excluídos, que a política é algo feito de cima pra baixo, ao invés de ser horizontal, com a ativação de nossa voz política e retomarmos nossa capacidade de fazer para nós, e não para uma entidade quase divina como o governo. E discutir se o que o médico receita faz bem ou mal, se ele nos trata de forma digna? Pra que isso!
Mas em nossos tempos, quando se fala de amor é difícil não ser afetado. Ou se é apaixonado por ele, ou emite um profundo ódio quando se toca nele. A indiferença existe, em corpos que já não sentem, mas são poucos que trocaram sua pele por uma fina camada de metal, asséptica, lisa, insensível, imagética, ainda são poucos corpos que perderam suas vísceras para adquirir o status virtual da imagem.
O amor quando em profusão toca corpos, libera resistências e as cisões Eu - Outro vão adquirindo um espaço, quem sabe um não-lugar, onde a distinção já não é possível, um ponto onde já não sei mais quem sou, quem você é, um ponto de urgência, um ponto que realiza transformações sutis ou brutais.
Também pelas péssimas experiências amorosas, fazemos de nossa pele uma armadura, vivemos em estado de guerra, alertas ao menor sinal, rigidificamos o ser, e as dobras se tornam nós explosivos, que ao menor toque liberam uma energia difusa, agressiva e dominadora, que machuca a quem toca, a quem está perto, e a si mesmo.
É difícil desapegar-se dessa densa armadura, a erguemos para nos manter estáveis, parados, petrificados no tempo, mas quando a mão do outro chega, com boas ou más intenções, nos desestabiliza, nos retoma ao fluxo do tempo, e nos obriga a sair, mesmo que seja apenas por um instante, da floresta petrificada em que convivemos.
O outro nos toca, tocamos o outro. É uma conexão em que nos misturamos, é a comunicatibilidade dos corpos que não passa necessariamente pela linguagem, nas línguas mais atuais, é um plugar-se em rede, rede de corpos, rede de seres, rede de vidas.
Redes de amor.
domingo, 16 de agosto de 2009
Farmácia de escrotório
Como dizem: escrever é para os ociosos.
Escritores, assim como artistas, são gente que não fazem nada. Pessoas que não querem nada da vida. Não são trabalhadores, não consegue aturar as experiências duras do cotidiano. São melindrosos, sentimentais, ilógicos.
Esse é o senso comum, arte...pra que arte? Para nos divertir, para nos desestressar...
arte para lazer...
E hoje em dia, tão cheio de workaholics, trabalhando dia e noite em escritórios, cúbiculos, fazendo da empresa seu deus.
Arte...pra que arte? Para fugir desse cotidiano estressante? Obter um lugar de subterfúgio desse mundo alucinante, onde homem atropela homem, o dinheiro em primeiro lugar, as máquinas...em segundo?!? E em terceiro...ahá! Pessoas?
Não, não são pessoas, são cyborgues. Totalmente programados. Aprendem regras de etiqueta, pois se não a tivessem não saberiam tratar uns aos outros. São ensinados a comer. São ensinados a dançar. São ensinados a labutar.
Vivem num mundo (des)encantado. Para acordar: despertador. O corpo ainda tem sono, dormiu poucas horas. Café, coca-cola e pó de guaraná para ativar a cabeça. Que o coração pife, não há lugar pra ele no escrotório das ruas de São Paulo.
Dores- aspirina
Impotência- viagra
Para atenção- ritalina
para depressão- prozac
para sucesso profissional- coaching
para criar- drogas
para fidelidade- ocitocina
para sinceridade- soro da verdade
Para amar- a...mar? Desculpe a farmácia não vende pílulas de amor
Vendemos trabalho. Compramos sua consciência. Compramos seu espírito.
Resta corpo-máquina.
Corpo que repete.
Repete...
Repete bom dia, repete boa noite, repete cumprimento, repete obrigado.
Jamais inicia, sua programação não permite.
Treina-se para passar a perna, para ser malicioso.
Não se preocupe, logo criaremos chips, e colocaremos em seu cérebro, não precisara nem mais pensar. Pensamos por você, fique tranqüilo.
Sabe aquele estremecer no peito, aquela alma que chora?
Vamos calar ela, quem precisa de alma quando tem um carro novo?
quem precisa de espírito quando se pode pagar por qualquer coisa?
qualquer coisa...
qualquer coisa?
Tudo tem seu preço? Tudo é preço?
Quem coloca o preço? Não lembro disso?
Eu não lembro?!?
Um abajur tem seu preço, um chocolate tem seu preço, uma caneta tem seu preço? tem, né. É a lógica.
A vida tem seu preço.
O espírito tem seu preço..
A alma tem seu preço...
É a lógica! Claro que é a lógica! Tem que ser a lógica..lógica...
Lógica...
É lógico que eu deva vender minha vida, para que outros vendam suas vidas
É claro que devo trocar minha vida por um pão, e ensinar meu filho isso!
Não tem outra opção a não ser aturar as pressões de um trabalho que te chicoteia.
Coluna pra quê? Aspirina
Dor de cabeça pra quê? Aspirina
Divagar a vida? Seu vagabundo! Tome ritalina
E toma cacetada! É trabalho que desaponta. São pessoas que te iludem. É a mente que deixa de ser humana, é a mente cyborgue.
Você foi adultilizado.
Viva os benéficios da insônia, de ter sua criança enjaulada num quarto escuro, de seu coração dar piripaques.
Programe-se! Claro: segundo nossos disquetes, nossos livros de auto-ajuda
Siga nossas receitas de felicidade
.
..
...
Arte... e ócio
que coisa terrível para a vida
Sensibilizar-se
sentir o coração da música, a vibração da pintura, o toque do abraço
amar...
outrar-se...
pacificar-se...
Afinal, pra que tudo isso se eu tenho um Cross Fox???
Arte...pra que arte!
Escritores, assim como artistas, são gente que não fazem nada. Pessoas que não querem nada da vida. Não são trabalhadores, não consegue aturar as experiências duras do cotidiano. São melindrosos, sentimentais, ilógicos.
Esse é o senso comum, arte...pra que arte? Para nos divertir, para nos desestressar...
arte para lazer...
E hoje em dia, tão cheio de workaholics, trabalhando dia e noite em escritórios, cúbiculos, fazendo da empresa seu deus.
Arte...pra que arte? Para fugir desse cotidiano estressante? Obter um lugar de subterfúgio desse mundo alucinante, onde homem atropela homem, o dinheiro em primeiro lugar, as máquinas...em segundo?!? E em terceiro...ahá! Pessoas?
Não, não são pessoas, são cyborgues. Totalmente programados. Aprendem regras de etiqueta, pois se não a tivessem não saberiam tratar uns aos outros. São ensinados a comer. São ensinados a dançar. São ensinados a labutar.
Vivem num mundo (des)encantado. Para acordar: despertador. O corpo ainda tem sono, dormiu poucas horas. Café, coca-cola e pó de guaraná para ativar a cabeça. Que o coração pife, não há lugar pra ele no escrotório das ruas de São Paulo.
Dores- aspirina
Impotência- viagra
Para atenção- ritalina
para depressão- prozac
para sucesso profissional- coaching
para criar- drogas
para fidelidade- ocitocina
para sinceridade- soro da verdade
Para amar- a...mar? Desculpe a farmácia não vende pílulas de amor
Vendemos trabalho. Compramos sua consciência. Compramos seu espírito.
Resta corpo-máquina.
Corpo que repete.
Repete...
Repete bom dia, repete boa noite, repete cumprimento, repete obrigado.
Jamais inicia, sua programação não permite.
Treina-se para passar a perna, para ser malicioso.
Não se preocupe, logo criaremos chips, e colocaremos em seu cérebro, não precisara nem mais pensar. Pensamos por você, fique tranqüilo.
Sabe aquele estremecer no peito, aquela alma que chora?
Vamos calar ela, quem precisa de alma quando tem um carro novo?
quem precisa de espírito quando se pode pagar por qualquer coisa?
qualquer coisa...
qualquer coisa?
Tudo tem seu preço? Tudo é preço?
Quem coloca o preço? Não lembro disso?
Eu não lembro?!?
Um abajur tem seu preço, um chocolate tem seu preço, uma caneta tem seu preço? tem, né. É a lógica.
A vida tem seu preço.
O espírito tem seu preço..
A alma tem seu preço...
É a lógica! Claro que é a lógica! Tem que ser a lógica..lógica...
Lógica...
É lógico que eu deva vender minha vida, para que outros vendam suas vidas
É claro que devo trocar minha vida por um pão, e ensinar meu filho isso!
Não tem outra opção a não ser aturar as pressões de um trabalho que te chicoteia.
Coluna pra quê? Aspirina
Dor de cabeça pra quê? Aspirina
Divagar a vida? Seu vagabundo! Tome ritalina
E toma cacetada! É trabalho que desaponta. São pessoas que te iludem. É a mente que deixa de ser humana, é a mente cyborgue.
Você foi adultilizado.
Viva os benéficios da insônia, de ter sua criança enjaulada num quarto escuro, de seu coração dar piripaques.
Programe-se! Claro: segundo nossos disquetes, nossos livros de auto-ajuda
Siga nossas receitas de felicidade
.
..
...
Arte... e ócio
que coisa terrível para a vida
Sensibilizar-se
sentir o coração da música, a vibração da pintura, o toque do abraço
amar...
outrar-se...
pacificar-se...
Afinal, pra que tudo isso se eu tenho um Cross Fox???
Arte...pra que arte!
sábado, 25 de julho de 2009
Encantos de blogar-se
Estou cansado de ouvir as pessoas falando que o blog é mero diário cibernético onde colocamos as narrativas de nossa vida e as tornamos públicas por uma imposição midiática decorrente do capitalismo e da sociedade do espetáculo. Estou cansado de ouvir que o blog é um instrumento de reafirmação identitária, que ele nada mais é que um canal de comunicação e que só desocupados perdem seu tempo com eles.
Já estou cansado, esgotado desses papos monistas que dizem que algo só é útil se houver um princípio por trás do que se faz, que o blog só é útil quando providencia um insight ao leitor ou ao escritor, gente que fala mal de blog e que ressalta as verdades indubitáveis das revistas semanais, e acreditam fervorosamente nos padres dos telejornais.
Se eu tenho algum objetivo com meu blog? Tenho, mas é bem diferente da opinião dos especialistas. Aqui não é um lugar de escapismo do mundo, onde eu fico meramente a deriva de meus sonhos e devaneios, reapresentando, meus conflitos, minhas dores, minhas alegrias. Muito pelo contrário, aqui é onde experimento a intensidade do mundo, onde percorro esse campo de intensidades, não de histórias já escritas e pontuadas, se há histórias, apenas as que podem ser constantemente reformuladas.
O blog é um laboratório, um laboratório de experimentações. Aqui eu não afirmo um Eu, um Self, um Si mesmo, aqui eu os crio e os experimento, e posso fazer uma brincadeira sem cerimônias de mudança de Si, ou mesmo negação de Si, posso brincar de artista, de poeta, de cientista sem que eu seja algum deles, posso brincar de heterônimos como Fernando Pessoa o fazia.
E posso conviver com a multiplicidade dentro de mim, sem querer negá-la ou reduzir a uma unidade. Posso ser um materialista e espiritualista ao mesmo tempo, posso ser cristão, judeu e ateu sem dor de cabeça, e posso ser nada disso, pois ao não afirmar uma identidade em detrimento das outras, você está aberto para experimentar o sensível em cada particularidade, você se torna alguém com largueza de alma.
Você não precisa percorrer um esgotamento de identidades, um esgotamento das possibilidades de “mascarar” a si mesmo, nesta lógica, pois aqui não se testa para saber qual é melhor e qual é pior, a gente testa para saber se em tal momento as intensidades que formam aquela identidade estendem ou contraem minha pele. Não é a questão de um espírito já pronto que abre os olhos e nós temos que nos adequar a ele, esse espírito está em constante expansão, expansão de subjetividades, expansão de virtualidades, expansão de sensibilidades.
Não temos algo pronto, algo ready-made que pegamos e temos de desvelar. Por sinal, o ready-made surge após a industrialização, na idéia de produção massificada e da qual o homem não tinha contato direto com o produzido, de um lado a fábrica entrava a matéria-prima, e do outro sai o produto, e a maioria de nós só via o produto e achava que era assim, por mágica que as coisas funcionavam.
Não nascemos prontos, nascemos para crescer e alargar, para construir e criar, não nascemos para desvelar uma subjetividade humana que é una, irredutível, original, é por sermos centelhas, átomos e moléculas de sensibilidade que se unem numa explosão fotoquímica que criamos a singularidade de um ser. Ser animalidade, ser humanidade, ser divindade.
Já estou cansado, esgotado desses papos monistas que dizem que algo só é útil se houver um princípio por trás do que se faz, que o blog só é útil quando providencia um insight ao leitor ou ao escritor, gente que fala mal de blog e que ressalta as verdades indubitáveis das revistas semanais, e acreditam fervorosamente nos padres dos telejornais.
Se eu tenho algum objetivo com meu blog? Tenho, mas é bem diferente da opinião dos especialistas. Aqui não é um lugar de escapismo do mundo, onde eu fico meramente a deriva de meus sonhos e devaneios, reapresentando, meus conflitos, minhas dores, minhas alegrias. Muito pelo contrário, aqui é onde experimento a intensidade do mundo, onde percorro esse campo de intensidades, não de histórias já escritas e pontuadas, se há histórias, apenas as que podem ser constantemente reformuladas.
O blog é um laboratório, um laboratório de experimentações. Aqui eu não afirmo um Eu, um Self, um Si mesmo, aqui eu os crio e os experimento, e posso fazer uma brincadeira sem cerimônias de mudança de Si, ou mesmo negação de Si, posso brincar de artista, de poeta, de cientista sem que eu seja algum deles, posso brincar de heterônimos como Fernando Pessoa o fazia.
E posso conviver com a multiplicidade dentro de mim, sem querer negá-la ou reduzir a uma unidade. Posso ser um materialista e espiritualista ao mesmo tempo, posso ser cristão, judeu e ateu sem dor de cabeça, e posso ser nada disso, pois ao não afirmar uma identidade em detrimento das outras, você está aberto para experimentar o sensível em cada particularidade, você se torna alguém com largueza de alma.
Você não precisa percorrer um esgotamento de identidades, um esgotamento das possibilidades de “mascarar” a si mesmo, nesta lógica, pois aqui não se testa para saber qual é melhor e qual é pior, a gente testa para saber se em tal momento as intensidades que formam aquela identidade estendem ou contraem minha pele. Não é a questão de um espírito já pronto que abre os olhos e nós temos que nos adequar a ele, esse espírito está em constante expansão, expansão de subjetividades, expansão de virtualidades, expansão de sensibilidades.
Não temos algo pronto, algo ready-made que pegamos e temos de desvelar. Por sinal, o ready-made surge após a industrialização, na idéia de produção massificada e da qual o homem não tinha contato direto com o produzido, de um lado a fábrica entrava a matéria-prima, e do outro sai o produto, e a maioria de nós só via o produto e achava que era assim, por mágica que as coisas funcionavam.
Não nascemos prontos, nascemos para crescer e alargar, para construir e criar, não nascemos para desvelar uma subjetividade humana que é una, irredutível, original, é por sermos centelhas, átomos e moléculas de sensibilidade que se unem numa explosão fotoquímica que criamos a singularidade de um ser. Ser animalidade, ser humanidade, ser divindade.
terça-feira, 21 de julho de 2009
Entre tantas coisas
A gente se acostuma...
A gente se acostuma nos dias frio de inverno a ficar debaixo das cobertas
A gente se acostuma a não abrir as janelas em dias de chuva
A gente se acostuma a olhar para baixo, a ver nada além de terra
A gente se acostuma a querer ficar em casa, e não sair por nada desse mundo
A gente se acostuma à mesma casa, à mesma pintura, aos mesmos móveis
A gente se acostuma a erguer um templo para a televisão
A gente se acostuma em viver em nossos quartos
A gente se acostuma aos mesmos canais, à mesma programação
Acostumamos a comer rápido, não conversar com aqueles na mesa
Acostumamos aprender apenas ouvindo
Acostumamos a sentar em cadeiras e esperar que a aula termine
Acostumamos...
Acostumamos a tanta coisa
Acostumamos com um relacionamento, só pelo status de dizer: “eu o tenho”
Acostumamos a não ver, a não olhar para os lados
Não ver as árvores e borboletas que estão nas margens de nossa trilha
A não ver o menino de rua, malabarista de farol e catador de papelão
Acostumamos a ouvir telejornais, rádios e MP3s
Deixamos de ouvir o canto dos pássaros, as ondas do mar batendo e o violão do amigo
Não ouvimos o jovem desesperado, o adulto drogado, o filho desesperançado
Acostumamos a usar remédios para acordar, pílulas para dormir, pastilhas para alegrar
Acostumamos a não sentir a brisa no rosto, a umidade da terra nos pés e o corpo do outro
Acostumamos a ficar longe, a nos proteger, a ficar frios e rígidos
Acostumamos a fugir daquele que vem adiante, desviar o olhar, fingir que olhamos o relógio
Acostumamos a ignorar o outro, e entre tantas coisas
Nossa alma, bela alma, acorda dia a dia esgotada
Desacreditada de nós
A gente se acostuma nos dias frio de inverno a ficar debaixo das cobertas
A gente se acostuma a não abrir as janelas em dias de chuva
A gente se acostuma a olhar para baixo, a ver nada além de terra
A gente se acostuma a querer ficar em casa, e não sair por nada desse mundo
A gente se acostuma à mesma casa, à mesma pintura, aos mesmos móveis
A gente se acostuma a erguer um templo para a televisão
A gente se acostuma em viver em nossos quartos
A gente se acostuma aos mesmos canais, à mesma programação
Acostumamos a comer rápido, não conversar com aqueles na mesa
Acostumamos aprender apenas ouvindo
Acostumamos a sentar em cadeiras e esperar que a aula termine
Acostumamos...
Acostumamos a tanta coisa
Acostumamos com um relacionamento, só pelo status de dizer: “eu o tenho”
Acostumamos a não ver, a não olhar para os lados
Não ver as árvores e borboletas que estão nas margens de nossa trilha
A não ver o menino de rua, malabarista de farol e catador de papelão
Acostumamos a ouvir telejornais, rádios e MP3s
Deixamos de ouvir o canto dos pássaros, as ondas do mar batendo e o violão do amigo
Não ouvimos o jovem desesperado, o adulto drogado, o filho desesperançado
Acostumamos a usar remédios para acordar, pílulas para dormir, pastilhas para alegrar
Acostumamos a não sentir a brisa no rosto, a umidade da terra nos pés e o corpo do outro
Acostumamos a ficar longe, a nos proteger, a ficar frios e rígidos
Acostumamos a fugir daquele que vem adiante, desviar o olhar, fingir que olhamos o relógio
Acostumamos a ignorar o outro, e entre tantas coisas
Nossa alma, bela alma, acorda dia a dia esgotada
Desacreditada de nós
segunda-feira, 20 de julho de 2009
Cyberderme- o sensível e a experimentação do mundo cibernético
A casa está em reforma, e meu quarto estaria sombrio se não fosse a luz digitalizada desse notebook. O mundo lá fora está frio, e o cobertor daqui de casa está tão aconchegante, vou ficar mesmo é no conforto!
Há um tempo atrás falei de corpo, e acho q vou continuar a falar de corpo. É um assunto tão interessante! Corpo-cristão, corpo-máquina, corpo-ecologia, corpo-indivíduo, corpo-social, corpo-mundo! Olhe que bonito: nós é que decidimos a extensão de nossos corpos, nós podemos decidir, em parte, onde a experiência de nosso sensível se faz.
Podemos ter um corpo estritamente biológico, um corpo fechado em si e o sentido é apenas aquilo que desencadeia uma descarga neuronal dos gânglios sensoriais aos lobos cerebrais, podemos ter esse corpo de orgãos, vasos e sistemas.
Podemos ter um corpo estritamente social, um corpo fechado não em suas estimulações mais materializadas, um corpo que pode estar cego para sua biologia, porém possui tamanha sensibilidade para questões da grupalidade, da política e do coletivo. Um corpo de rede, mas não necessariamente um corpo em rede, pois seu sensível faz ele aderir completamente à rede, mas não diferencia dela. Extrema sensibilidade e extrema insensibilidade lado a lado.
Horas e horas poderiam ser utilizadas para a discussão desses corpos aparentemente dissociados, porém eles estão tão imbricados na corporiedade como várias outras formas corporais. Nós urdimos e tecemos esse corpo, não temos uma linha, apenas um novelo e um modo de tecer, somos uma pluralidade de fios entrelaçados, que podem desfiar ou engrossar em alguns pontos da história.
Claro que é difícil imaginar um ser cibernético na Antiguidade, na Idade Média ou mesmo nos início da Idade Moderna. O Cyberespaço só costuma a ser pensado depois que inventamos o computador e a internet, porém o imaginário humano era recheado pelo ideário de um espaço de circulação de informações, pessoas, conhecimentos. A Biblioteca de Babel do argentino Jorge Luis Borges é um exemplo literário do homem em imaginar um espaço de fluxos de conhecimento e saberes.
As fantasias do cybercampo estavam começando a ser exploradas, e o imaginário explode numa finidade que se multiplica a cada segundo, o conhecimento, o saber, o sensível e a vida vem entrando numa dimensão praticamente sem volta. O Campo de experimentações se avoluma tanto que para permanecermos insensíveis às mudanças, somente isolados do mundo, e isto é uma força tremenda que é gasta para se afastar.
Várias barreiras são quebradas nesse mundo, o limite entre nossas personalidades humanas e a interface do Orkut, Twitter e outros sites de relacionamentos praticamente desmoronam, o paradigma público-privado também sofre altas transformações. E este é um novo mundo que passa a ser sensível para nossos olhos, nossos ossos, nossa pele.
Tal como a realidade psíquica tem sua dificuldade de encontrar um fato imutável que encontre um porto seguro que chegue a dizer isto é a Verdade, isto é o Real, a realidade cybernética apesar de ampliar nosso sensível, que eu ouso dizer de um devir-bits, um devir-telemático, ela tem suas dificuldades, seus problemas, pois ela também é tão variável e frágil quanto a psique.
Uma cyberpsique estaria aflorando nos dias atuais? Haverá um fluxo daquela subjetividade íntima com estes relâmpagos estrondosos do cybercampo?
Entre os mais jovens já percebemos uma fusão daqueles nossos corpos com os instrumentos da telemática: computadores, celulares, iphones, ipods, e seus universos, a internet, sites de relacionamento, blogs e fotologs. A velocidade desses jovens é supersônica, o que levamos horas para aprender, em dois cliques eles conseguem alcançar a resposta.
Nossos corpos são cheios de neurônios, vasos, orgãos, e os corpos desses jovens vêm carregados de chips e fibras óticas, seu sensível consegue se estender até o outro lado do mundo em busca de novas experiências, experiências virtuais tão reais quanto qualquer outra, porém essa longa distância de seu sensível poderia torná-los um sujeito longe-de-si? Eles têm um mundo gigante a ser explorado, mas será que esse mundo não lhe permitirá mais conhecer o mundo que está em sua vizinhança? Ou mesmo aquele mundo que muitos chamamos de sala e de família?
E não sei quanto a vocês, mas agora o único mundo que quero ver, mesmo nesse frio, é minha loba predileta =D
Abraços a todos!
Há um tempo atrás falei de corpo, e acho q vou continuar a falar de corpo. É um assunto tão interessante! Corpo-cristão, corpo-máquina, corpo-ecologia, corpo-indivíduo, corpo-social, corpo-mundo! Olhe que bonito: nós é que decidimos a extensão de nossos corpos, nós podemos decidir, em parte, onde a experiência de nosso sensível se faz.
Podemos ter um corpo estritamente biológico, um corpo fechado em si e o sentido é apenas aquilo que desencadeia uma descarga neuronal dos gânglios sensoriais aos lobos cerebrais, podemos ter esse corpo de orgãos, vasos e sistemas.
Podemos ter um corpo estritamente social, um corpo fechado não em suas estimulações mais materializadas, um corpo que pode estar cego para sua biologia, porém possui tamanha sensibilidade para questões da grupalidade, da política e do coletivo. Um corpo de rede, mas não necessariamente um corpo em rede, pois seu sensível faz ele aderir completamente à rede, mas não diferencia dela. Extrema sensibilidade e extrema insensibilidade lado a lado.
Horas e horas poderiam ser utilizadas para a discussão desses corpos aparentemente dissociados, porém eles estão tão imbricados na corporiedade como várias outras formas corporais. Nós urdimos e tecemos esse corpo, não temos uma linha, apenas um novelo e um modo de tecer, somos uma pluralidade de fios entrelaçados, que podem desfiar ou engrossar em alguns pontos da história.
Claro que é difícil imaginar um ser cibernético na Antiguidade, na Idade Média ou mesmo nos início da Idade Moderna. O Cyberespaço só costuma a ser pensado depois que inventamos o computador e a internet, porém o imaginário humano era recheado pelo ideário de um espaço de circulação de informações, pessoas, conhecimentos. A Biblioteca de Babel do argentino Jorge Luis Borges é um exemplo literário do homem em imaginar um espaço de fluxos de conhecimento e saberes.
As fantasias do cybercampo estavam começando a ser exploradas, e o imaginário explode numa finidade que se multiplica a cada segundo, o conhecimento, o saber, o sensível e a vida vem entrando numa dimensão praticamente sem volta. O Campo de experimentações se avoluma tanto que para permanecermos insensíveis às mudanças, somente isolados do mundo, e isto é uma força tremenda que é gasta para se afastar.
Várias barreiras são quebradas nesse mundo, o limite entre nossas personalidades humanas e a interface do Orkut, Twitter e outros sites de relacionamentos praticamente desmoronam, o paradigma público-privado também sofre altas transformações. E este é um novo mundo que passa a ser sensível para nossos olhos, nossos ossos, nossa pele.
Tal como a realidade psíquica tem sua dificuldade de encontrar um fato imutável que encontre um porto seguro que chegue a dizer isto é a Verdade, isto é o Real, a realidade cybernética apesar de ampliar nosso sensível, que eu ouso dizer de um devir-bits, um devir-telemático, ela tem suas dificuldades, seus problemas, pois ela também é tão variável e frágil quanto a psique.
Uma cyberpsique estaria aflorando nos dias atuais? Haverá um fluxo daquela subjetividade íntima com estes relâmpagos estrondosos do cybercampo?
Entre os mais jovens já percebemos uma fusão daqueles nossos corpos com os instrumentos da telemática: computadores, celulares, iphones, ipods, e seus universos, a internet, sites de relacionamento, blogs e fotologs. A velocidade desses jovens é supersônica, o que levamos horas para aprender, em dois cliques eles conseguem alcançar a resposta.
Nossos corpos são cheios de neurônios, vasos, orgãos, e os corpos desses jovens vêm carregados de chips e fibras óticas, seu sensível consegue se estender até o outro lado do mundo em busca de novas experiências, experiências virtuais tão reais quanto qualquer outra, porém essa longa distância de seu sensível poderia torná-los um sujeito longe-de-si? Eles têm um mundo gigante a ser explorado, mas será que esse mundo não lhe permitirá mais conhecer o mundo que está em sua vizinhança? Ou mesmo aquele mundo que muitos chamamos de sala e de família?
E não sei quanto a vocês, mas agora o único mundo que quero ver, mesmo nesse frio, é minha loba predileta =D
Abraços a todos!
sábado, 11 de julho de 2009
Corpos políticos! ... ou será uma política de corpos?
Têm-se falado muito nesta década sobre biotecnologia, esportes e saúde. Muitos dizem que hoje aquele corpo carnudo renegado no cristianismo e na idade média está voltando a ocupar um espaço de destaque na contemporaniedade. A quantidade de teses médicas de cunho biológico sobre o corpo, ou melhor dizendo, sobre esses orgãos do corpo vem crescendo dia a dia. E graças à hipermedia o conhecimento fabricado em uma universidade de Londres percorre extensas porções térreas, e até mesmo oceânicas, para chegar em um microcomputador que pode estar dentro de um instituto de pesquisa na África, numa faculdade da Índia, ou mesmo encontramos essa informação rodeando o cybernauta brasileiro.
Nunca tivemos acesso ao conhecimento tão rapidamente, e nunca fomos tão escravos dele quanto hoje. Podemos perceber que hoje, na sociedade dos autônomos , a autonomia garantida pelo conhecimento é uma faixada. Os especialistas das situações cotidianas se fazem necessários numa sociedade em que seus (des)integrantes são dominados pela insegurança dos vínculos socias, empregatícios e afetivos. A mãe há 5 décadas átras não tinha essa autonomia de cuidar de sua criança como nós temos hoje, ela não procurava uma nutricionista, um fisioterapeuta e uma série de bacharéis em meio a uma infinidade de ramos da saúde, o máximo em que esta mãe procurava era o pediatra da família. E a mãe do século XXI, o que ela faz? Dinâmicas e superativas nos ramos social e com altas pretensões em sua carreira, esta mulher tem uma autonomia a qual lhe permite a decisão, a escolha e o gerenciamento de sua vida que há 5 décadas só viamos os germes do movimento feminista, porém cada vez são mais procurados especialistas em sua vida, o endocrinonolgista pelos pneus laterais (exceto no caso daquelas que, sem medo e com poder aquisitivo, enfrentam o cirurgião plástico), o clínico geral para as freqüentes sinusites, o psicólogo para incentivá-la e tentar explicar porque os homens ficam pavorizados ao ver uma mulher madura, pois a maioria vive na infantilidade mental, e o personal coaching que vai treiná-la a obter altos cargos na empresa que atua, e claro além desses, ao invés de recorrer à antiga tradição oral que passa os cuidados e as minúcias dos bebês de mãe para filha, ela procura um profissional que teve mestrado, se não puder arcar com um doutor, das enfermidades e do modo correto de cuidar da criança e do adolescente.
É errado fazer isso? Não. Mas é esse o meio correto? Não necessariamente. E teria um meio correto de guiar a vida? Meios corretos, vidas ascéticas e todo tipo de preparação é um caminho para obter algo. Por exemplo, qual seria, teimando a um reducionismo fatalístico, o caminho correto para o budista? O budista pretende entrar em nirvana, um estado, ou melhor dizendo, uma transição que nos dá paz interior, um estado de relaxamento do corpo e da mente, e de comunhão com a vida. Porque prefiro dizer que nirvana é uma transição e não um estado? A paz não é apenas um fenomêno interno, ele depende da relação, do espaço que se forma entre aquilo que chamamos de si e o mundo, e o mundo é o Outro, a vida que interpassa e transpassa por nossas dimensões, seja material, linguística ou emocional entre tantas. E seu caminho passa pela corporeidade, por essa mistura de orgãos, sejam biológicos como a pele ou espirituais como os chakras, em um tal engendramento que o correto é obter uma comuna de paz, se seus poros denotam medo, tensão ou algum tipo de pretensão, seu corpo fecha, sua energia estanca, seus músculos contraem, formando blocos, couraças nesse corpo, negando o movimento deste, e em que mundo alguém enjaulado está em paz? Já se viu algum acorrentado, algum enforcado relaxado? E claro, ele está muito menos em paz.
Agora o caminho correto de um militar é diferente do caminho búdico, enquanto este quer comungar com a natureza, o militar quer colonizar, dominar a natureza e a vida, então seu primeiro movimento não é em sentido de um corpo vivo, mas de um corpo arma, a corporeidade é mero instrumento para dominação, é um corpo semi-esgotado, suas possibilidades desvribaram-se, apenas restou a guerra percorrendo suas veias, esse corpo não é o corpo de prazeres ou de desejos, esse é o corpo do aniquilamento. Para dominar algo ou alguém, você deve abdicar de uma coisa preciosa e frágil como uma flor perto de um vulcão, o vulcão é nossa potência de destruição, e a frágil flor repousada no leito rochoso é nada menos, nada mais que a vida. Para dominar o vulcão tem que explodir, deve haver algum desequílibrio, seja sísmico, seja nas concentrações rochosas do magma, ou tirando das metáforas, algo deve se passar seja nesse espaço que reservamos a vida interior, seja no Campo da existência, e essa lava fluente pulveriza em segundos a pequena e mirrada flor. A flor só cresce num ambiente de celebração, e isto não quer dizer que a vida só valha nos momentos de alegria como gostariamos de supor, a celebração que digo não é uma festa egóica de ressaltar nossas conquistas, nosso novo cargo da empresa ou nosso meio século de vida, celebrar não é apenas da dimensão positiva da vida. Celebra-se a dor, a tristeza, mas isso não é apologia do sofrimento ou da depressão. Aquele que ouve não com os tímpanos e o lobo lateral da cabeça, mas sim com o bater do coração sabe que a dor e a tristeza precedem uma transformação, e se é grato por elas, esse é o sentido de celebrar, mas aquele que se afoga na mágoa e no ressentimento é um espírito lamentável, ao invés de cultivar o desapego que lhe garante uma paz, finca com dentes e garras em seu objeto de tortura.
O militar nega seu corpo, nega sua vida, o que lhe resta é apenas um espaço dedicado ao culto de ideais de seus generais e nações. O militar cumpre um papel de missionário, um sacerdote, levando os destrutivos aspectos de sua cultura para outros, sejam indefesos ou não. E nós, que estamos tão longe dessa dimensão armamentista, de conflitos internacionais, e quem sabe jamais teríamos a coragem de pegar num rifle de guerra, seríamos esses militares, fanáticos de seus generais, seus sacerdotes?
Final da parte I
em breve continuarei...
Quanto mais se busca abordar um assunto, se tateia essa bordas que estão lá na extremidade que delimita o saber e o não-saber. As pessoas não falam do que sabem, falam apenas naquilo que está no limite de sua mente e seu coração, então qualquer coisa que for ler, ou ouvir, seja como um rio, inunde-se das palavras e idéias e e deixe-as seguir a correnteza, seja indomável.
abraços a todos
Nunca tivemos acesso ao conhecimento tão rapidamente, e nunca fomos tão escravos dele quanto hoje. Podemos perceber que hoje, na sociedade dos autônomos , a autonomia garantida pelo conhecimento é uma faixada. Os especialistas das situações cotidianas se fazem necessários numa sociedade em que seus (des)integrantes são dominados pela insegurança dos vínculos socias, empregatícios e afetivos. A mãe há 5 décadas átras não tinha essa autonomia de cuidar de sua criança como nós temos hoje, ela não procurava uma nutricionista, um fisioterapeuta e uma série de bacharéis em meio a uma infinidade de ramos da saúde, o máximo em que esta mãe procurava era o pediatra da família. E a mãe do século XXI, o que ela faz? Dinâmicas e superativas nos ramos social e com altas pretensões em sua carreira, esta mulher tem uma autonomia a qual lhe permite a decisão, a escolha e o gerenciamento de sua vida que há 5 décadas só viamos os germes do movimento feminista, porém cada vez são mais procurados especialistas em sua vida, o endocrinonolgista pelos pneus laterais (exceto no caso daquelas que, sem medo e com poder aquisitivo, enfrentam o cirurgião plástico), o clínico geral para as freqüentes sinusites, o psicólogo para incentivá-la e tentar explicar porque os homens ficam pavorizados ao ver uma mulher madura, pois a maioria vive na infantilidade mental, e o personal coaching que vai treiná-la a obter altos cargos na empresa que atua, e claro além desses, ao invés de recorrer à antiga tradição oral que passa os cuidados e as minúcias dos bebês de mãe para filha, ela procura um profissional que teve mestrado, se não puder arcar com um doutor, das enfermidades e do modo correto de cuidar da criança e do adolescente.
É errado fazer isso? Não. Mas é esse o meio correto? Não necessariamente. E teria um meio correto de guiar a vida? Meios corretos, vidas ascéticas e todo tipo de preparação é um caminho para obter algo. Por exemplo, qual seria, teimando a um reducionismo fatalístico, o caminho correto para o budista? O budista pretende entrar em nirvana, um estado, ou melhor dizendo, uma transição que nos dá paz interior, um estado de relaxamento do corpo e da mente, e de comunhão com a vida. Porque prefiro dizer que nirvana é uma transição e não um estado? A paz não é apenas um fenomêno interno, ele depende da relação, do espaço que se forma entre aquilo que chamamos de si e o mundo, e o mundo é o Outro, a vida que interpassa e transpassa por nossas dimensões, seja material, linguística ou emocional entre tantas. E seu caminho passa pela corporeidade, por essa mistura de orgãos, sejam biológicos como a pele ou espirituais como os chakras, em um tal engendramento que o correto é obter uma comuna de paz, se seus poros denotam medo, tensão ou algum tipo de pretensão, seu corpo fecha, sua energia estanca, seus músculos contraem, formando blocos, couraças nesse corpo, negando o movimento deste, e em que mundo alguém enjaulado está em paz? Já se viu algum acorrentado, algum enforcado relaxado? E claro, ele está muito menos em paz.
Agora o caminho correto de um militar é diferente do caminho búdico, enquanto este quer comungar com a natureza, o militar quer colonizar, dominar a natureza e a vida, então seu primeiro movimento não é em sentido de um corpo vivo, mas de um corpo arma, a corporeidade é mero instrumento para dominação, é um corpo semi-esgotado, suas possibilidades desvribaram-se, apenas restou a guerra percorrendo suas veias, esse corpo não é o corpo de prazeres ou de desejos, esse é o corpo do aniquilamento. Para dominar algo ou alguém, você deve abdicar de uma coisa preciosa e frágil como uma flor perto de um vulcão, o vulcão é nossa potência de destruição, e a frágil flor repousada no leito rochoso é nada menos, nada mais que a vida. Para dominar o vulcão tem que explodir, deve haver algum desequílibrio, seja sísmico, seja nas concentrações rochosas do magma, ou tirando das metáforas, algo deve se passar seja nesse espaço que reservamos a vida interior, seja no Campo da existência, e essa lava fluente pulveriza em segundos a pequena e mirrada flor. A flor só cresce num ambiente de celebração, e isto não quer dizer que a vida só valha nos momentos de alegria como gostariamos de supor, a celebração que digo não é uma festa egóica de ressaltar nossas conquistas, nosso novo cargo da empresa ou nosso meio século de vida, celebrar não é apenas da dimensão positiva da vida. Celebra-se a dor, a tristeza, mas isso não é apologia do sofrimento ou da depressão. Aquele que ouve não com os tímpanos e o lobo lateral da cabeça, mas sim com o bater do coração sabe que a dor e a tristeza precedem uma transformação, e se é grato por elas, esse é o sentido de celebrar, mas aquele que se afoga na mágoa e no ressentimento é um espírito lamentável, ao invés de cultivar o desapego que lhe garante uma paz, finca com dentes e garras em seu objeto de tortura.
O militar nega seu corpo, nega sua vida, o que lhe resta é apenas um espaço dedicado ao culto de ideais de seus generais e nações. O militar cumpre um papel de missionário, um sacerdote, levando os destrutivos aspectos de sua cultura para outros, sejam indefesos ou não. E nós, que estamos tão longe dessa dimensão armamentista, de conflitos internacionais, e quem sabe jamais teríamos a coragem de pegar num rifle de guerra, seríamos esses militares, fanáticos de seus generais, seus sacerdotes?
Final da parte I
em breve continuarei...
Quanto mais se busca abordar um assunto, se tateia essa bordas que estão lá na extremidade que delimita o saber e o não-saber. As pessoas não falam do que sabem, falam apenas naquilo que está no limite de sua mente e seu coração, então qualquer coisa que for ler, ou ouvir, seja como um rio, inunde-se das palavras e idéias e e deixe-as seguir a correnteza, seja indomável.
abraços a todos
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